Em uma fase tão instável como a que estamos vivenciando agora com a pandemia, um momento de reflexão faz-se necessário. Se fosse possível extrair um ponto positivo dessa crise, poderíamos dizer que os valores mais simples da vida estão sendo ressaltados em nossos pensamentos. E, falando em valores, vivemos uma época em que a discussão sobre como ser feliz no trabalho vem ganhando cada vez mais destaque e tem sido mais comum ver profissionais que não levam mais esse tema como uma utopia e sim como um propósito possível.
O PraCarreiras sempre recebe mensagens de vocês sobre como encontrar um emprego que nos traga felicidade. E, para discutir sobre o assunto, conversamos com o Jorge Matos, presidente da Etalent, empresa de tecnologia especializada na gestão da mudança pessoal e na educação do comportamento.
Como ser feliz no trabalho: a resposta está no autoconhecimento
Grande parte dos profissionais brasileiros está infeliz no trabalho segundo pesquisas recentes sobre o tema. A angústia de não se encaixar em uma função ou empresa é disfarçada com um novo emprego que, após uns meses, já começa a demonstrar sinais de infelicidade para os profissionais e esse processo acontece constantemente.
A raiz dessa sequência de insatisfações está no baixo autoconhecimento. Quando não nos conhecemos bem, não conseguimos distinguir oportunidades de trabalho que estejam alinhadas com o nosso perfil. E acabamos trabalhando em empresas que não fazem sentido para nossos propósitos e em funções que não nos motivam.
“A essência de tudo está em a gente conhecer a nós mesmos e conhecer o ambiente no qual estamos inseridos. Quando conhecemos o ambiente, suas exigências e funções, conseguimos dar um match mais adequado e verificar aquilo que nos faz bem e aquilo que nos faz mal. O natural do ser humano é que ele se distancie daquilo que faz mal e se aproxime daquilo que faz bem, aí sim você tem chance de se aproximar daquilo que chamamos de felicidade”, explica Jorge Matos, que também é autor dos livros Talento pra Vida e Talento Brasileiro.
Como ser mais feliz no trabalho: encontrar adequação
As organizações perceberam que a produtividade está diretamente relacionada com a adequação de colaboradores em suas funções. Segundo Jorge Matos, não existem pessoas erradas para o cargo, mas pessoas inadequadas para as exigências do cargo. E isso não significa que esses profissionais não sejam capazes de entregar um bom trabalho, mas que ele não encontrem satisfação na realização delas.
Na outra ponta, os brasileiros têm buscado certa compatibilidade dos valores das empresas com o seu perfil pessoal. Mas esse é um trabalho muito mais complexo do que apenas alinhar missão, visão e valores. É preciso ir além para entender sobre suas aspirações, talentos, atividades que motivam e tipos de equipe e de liderança que trabalham melhor com você. É o que o presidente da Etalent chama de “natureza do indivíduo”.
Jorge explica que o ideal é que as organizações tenham um propósito claro, assim como descrição clara das suas funções e da sua identidade como um todo e que, por outro lado, o profissional conheça a fundo a sua natureza pessoal.
Como ser feliz no trabalho: por que é tão difícil?
Não há dúvidas sobre o quanto ser feliz no trabalho é importante e como o autoconhecimento pode nos aproximar dessa satisfação profissional. Mas por que é tão difícil alinhar todos esses pontos?
Segundo Jorge Matos, a questão está na falta de prioridades para a prática de autoconhecimento.
“Se a gente fizer um quadrado e colocar na base “urgente/urgente” e na outra ponta “importante/importante”, vamos perceber que 80% do nosso tempo é usado com o “urgente/urgente” (…). Na escala “importante/importante” está planejar a sua carreira e praticar o autoconhecimento, mas no final do dia a gente acaba dando muito mais atenção para aquilo que é urgente. E diferente da sede e da fome, nós podemos viver sem o autoconhecimento, mas é justamente o autoconhecimento que vai fazer diferença na nossa vida”, explica.
Para mudar isso, é importante organizar nossas rotinas para que elas contenham um trabalho de autoconhecimento constante, que vai nos permitir desenvolver nossas habilidades, perceber nossas fraquezas e ser mais assertivo no mercado de trabalho.
Como ser feliz no trabalho: não seja o escolhido
A consequência mais comum de quem não tem um bom conhecimento é acabar sendo escolhido pelas empresas e migrar de emprego em emprego de acordo com as necessidades do mercado de trabalho.
Quando não conhecemos nosso perfil em detalhe, não conseguimos fazer um bom planejamento de nossas carreiras, desenhar quais tipos de organizações gostaríamos de trabalhar, quais funções, pontos a serem desenvolvidos, etc. E nossas carreiras são marcadas por experiências que apareceram no mercado.
“Sêneca já dizia há 2,5 mil anos atrás que não há bons ventos para quem não sabe onde quer ir. Então, se você está no meio do mar e pega um vento muito forte, você pode estar, e frequentemente estará, fora do seu ponto ideal. Se pensarmos que temos 360 graus de possibilidades e apenas 1 grau é onde você quer chegar, você estará frequentemente pegando o caminho errado”, pontua o presidente da Etalent.
Como ser feliz no trabalho: autoconhecimento na prática
Existem muitas formas de colocar o autoconhecimento em prática, um exemplo é criar um diário de emoções. Você pode escrever sobre suas atividades desempenhadas no dia a dia e descrever como se sentiu em cada uma delas: quais trouxeram mais satisfação, por quais motivos, o que foi muito fácil e o que foi muito difícil.
Jorge Matos destaca ainda que é importante analisar os dados das suas anotações depois de tempos em tempos e falou ainda sobre a prática da meditação.
A Etalent tem um teste de perfil profissional que divide em quatro personalidades: dominância (gostam de desafios, são ousados e determinados), influência (boa comunicação, persuasão e otimismo), estabilidade (gostam de padrões e rotinas e são persistência) e conformidade (são mais precisos, lógica e disciplina). Todos igualmente importante para as organizações, mas com perfis muito diferentes entre si.
“A essência é conhecer nossa natureza. Quando conhecemos essa nossa natureza, nós tendemos a estudar mais e praticar mais. Então, o sucesso se aproxima mais de mim. Se eu não me conheço, eu termino em um ambiente que, ou eu estudo menos e pratico menos, ou faço as atividades com um esforço muito grande. E ambos são ruins. Em um eu vou ter o insucesso com certeza. No outro, eu posso até conseguir o sucesso, mas a um custo muito grande”, conclui Jorge.
Veja a entrevista por vídeo completa aqui.