Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência: retrocesso ou avanço?

Dia da luta da pessoa com deficiência
Dia da luta da pessoa com deficiência: esse é o tema do artigo de hoje, escrito por Guilherme Braga, CEO da Egalitê.
Desde de 1982, no dia 21 de setembro, é comemorado O Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência, a data foi oficializada em 2005, por meio da Lei n° 11.133. O dia foi escolhido devido ao início da primavera, estação das flores. Esse acontecimento serve como uma metáfora para a renovação da luta dessas pessoas.

Apesar de serem tratadas como grupo minoritário, segundo o Banco Mundial, é estimado 1 bilhão de pessoas com deficiência no mundo, cerca de 15% da população mundial. Ainda de acordo com o Censo de 2010, mais de 23% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, algo como 45 milhões de pessoas. Ainda que sejam números muito expressivos, para muitos, PcDs são totalmente invisíveis.

Dia da luta da pessoa com deficiência: urgência de cultura inclusiva

O Brasil possui problemas estruturais que afetam de forma ainda mais severa a população com deficiência, gerando grande impacto desses profissionais no mercado de trabalho. Além disso, educação, saúde, transporte público e acessibilidade se conectam a esse ecossistema de empregabilidade, potencializando os diversos impeditivos que envolvem o público PcD. Contudo, acredito que temos uma barreira anterior a ser vencida, a atitudinal.

A sociedade brasileira tem urgência por uma cultura mais inclusiva. Olhando especificamente para pessoas com deficiência, é imprescindível lutar no combate ao capacitismo. Mas afinal, o que seria isso?

Durante milhares de anos, PcDs foram vistas pela sociedade como incapazes. Apesar de não se enquadrar como crime, o capacitismo atua de forma invisível em muitas interações. Um exemplo disso está no fato da sociedade julgar incrível uma pessoa com deficiência com diploma universitário, família e filhos. Esse tipo de leitura traz à tona a inferiorização dos PcDs, marcados como incapazes ou inaptos para tomar decisões de forma autônoma pessoal e profissionalmente.

Dia da luta da pessoa com deficiência: falta de informação

Trazendo um recorte para o mercado de trabalho, pessoas com deficiência representam apenas 1% da força de trabalho, totalizando 486 mil empregos formais. Estima-se que existam mais 7 milhões economicamente ativos, que se enquadrem na Lei de Cotas, logo existe um grande número de profissionais disponíveis. Apesar da demanda legal para empresas a partir de 100 funcionários, existe uma barreira severa para a inclusão, dentre os impeditivos está a falta de informação.
Em geral, soluções simples ou até mesmo gratuitas, como, por exemplo, leitores de tela open source para cegos, são efetivas. Ainda assim, a negativa de contratação está lá, como se tudo se resumisse a acessibilidade de rampas e elevadores. Há uma pluralidade de deficiências, é preciso conhecimento antes de tudo!

Precisamos também ressaltar os avanços que podem ser percebidos na última década. De 2010 a 2018 houve o aumento de 60% no número de pessoas com deficiência em empregos formais. Empresas avançaram de forma significativa na transformação de cultura organizacional para promover a inclusão de PcDs. Contudo, precisamos ir além da Lei de Cotas. É necessário que as empresas valorizem de forma efetiva esses profissionais, principalmente no que diz respeito a oportunidades de crescimento e implementação de práticas de diversidade. Quando isso ocorre os resultados são espetaculares. Já vimos empresas reduzirem turnover, melhorarem o clima organizacional e indicadores financeiros por meio da inclusão.

Dia da luta da pessoa com deficiência: visão otimista?

Essa ainda é uma jornada longa. Em 2020, ano extremamente desafiador, vimos PcDs perdendo ou não encontrando empregos, dentre elas, muitas passando verdadeira dificuldade. Mais do que isso, perdendo vidas.

Entre avanços e retrocessos, comemoramos o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, com a certeza de que seguimos avançando. Observamos, em meio à pandemia, as conquistas realizadas por meio da transformação digital, que continuará transformando a nossa sociedade rumo a uma sociedade mais inclusiva. Passada a tormenta, trago uma visão otimista e de avanço, mas sempre atenta. A maior barreira não está no ambiente físico, já que esse nós enxergamos e conseguimos solucionar, está nas pessoas e suas respectivas atitudes. A transformação da sociedade ocorre quando os indivíduos mudam suas percepções e visões, logo, precisamos individualmente fazer a nossa parte para a inclusão, nós somos os agentes de mudança.