Diversidade no mercado de trabalho: o que você precisa saber

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Diversidade no mercado de trabalho: o que você precisa saber

A diversidade no mercado de trabalho é uma pauta que nunca sai de discussão. Ela é necessária nas empresas para que haja uma cultura inclusiva que dê oportunidade igualitária para todas as pessoas de diferentes grupos de idade, gêneros, culturas e pessoas com deficiência mostrarem seus talentos e terem uma oportunidade de crescimento na carreira. 

Entretanto, a diversidade no mercado de trabalho nem sempre é uma realidade, principalmente no Brasil. De acordo com o IBGE, o país é composto de 51% de mulheres, 54% de negros e 23,7% de pessoas com deficiência. Porém, estas pessoas não estão ocupando papéis representativos na sociedade, nas empresas e, inclusive, nos diversos cargos hierárquicos em uma corporação. Segundo o Instituto Ethos, mulheres são apenas 12% dos cargos de alta liderança e pessoas negras não chegam a 5%.

Apesar das conquistas e do espaço de fala que a pauta se encontra, ainda existem alguns passos para mudar esta realidade. Como mudar esse cenário e promover uma cultura mais diversa dentro das empresas? Para falar sobre o assunto, conversamos com a Keyllen Nieto, Colombiana, antropóloga, Mestre em Desenvolvimento Sustentável Internacional, ativista e especialista em temas LGBTIQ, juventude e gênero desde 1996 e fundadora da Integra Diversidade, uma consultoria especializada na inclusão da diversidade de pessoas nas empresas. 

O que é a diversidade no mercado de trabalho?

No dicionário, a palavra diversidade aparece com as seguintes definições: 1 – qualidade daquilo que é diverso, diferente, variado; variedade. 2 – conjunto variado; multiplicidade. Dentro das empresas, essa multiplicidade pode ser manifestada com uma política que preze pela inclusão e contratação de pessoas com diferentes raças, idade, etnias, gêneros, orientação sexual e outras características. 

Keyllen Nieto, que possui grande atuação neste movimento, trouxe uma perspectiva sobre o que é a diversidade no mercado de trabalho:

“A diversidade nas empresas tem alguns conceitos principais, que é a diversidade de todo mundo, de todos nós, todo mundo tem características diferentes e trata-se da maior igualdade que todos têm: que é ser diferente do outro. Temos ainda o conceito de equidade, que considera as particularidades de cada um e potencializa dos talentos de cada pessoa, que são diferentes em diversas medidas e escalas, proporcionando um ambiente no qual essas diferenças podem ser respeitadas, manifestadas e aproveitadas tanto para a pessoa, para a empresa e o time que a rodeia. E é nessa riqueza das trocas que a diversidade está cada vez mais beneficiando as pessoas e às empresas. Porque não se trata em dar oportunidade em quem está sendo ou foi excluído, mas em aproveitar e crescermos com as experiências diferentes e essas as trocas. Isso te leva ao desenvolvimento pessoal, tanto da equipe que acolhe a pessoa com suas particularidades”. 

Também temos que falar de inclusão, pois muitas empresas que contratam diferentes tipos de pessoas, mas quando elas sobem na hierarquia se tornam sempre de um perfil específico, geralmente brancas do gênero masculino, cis heterossexual. Por isso é importante focar em inclusão quando falamos de diversidade no mercado de trabalho, não podendo dissociar um do outro.”

Qual a importância da diversidade no mercado de trabalho? 

Quando aplicada de maneira verdadeiramente inclusiva, a diversidade no mercado de trabalho pode trazer diversos ganhos para o profissional, para a empresa e os demais colaboradores. 

De acordo com um estudo realizado pela consultoria McKinsey e publicado no Valor Econômico, organizações com mais diversidade de gênero em seus times de executivos tinham 21% mais chances de ter lucratividade acima da média do que companhias com pouca diversidade na liderança. A pesquisa foi feita com mais de 1 mil corporações em 12 países, incluindo o Brasil.

Keyllen Nieto, fundadora da Integra Diversidade, elencou alguns dos principais retornos:

  • Melhora a representatividade: empresas precisam refletir sobre as composições sociais nas quais estão inseridas. A representatividade é fundamental não só na base da pirâmide, como nas diferentes instâncias práticas e simbólicas das tomadas de decisão.
  • Aumenta o conhecimento dos públicos e não só sobre os clientes, mas com os públicos que ela lida, os chamados stakeholders. As empresas não dialogam apenas com clientes, mas com a sociedade de um modo abrangente. 
  • Aumenta a criatividade, inovação e a criação de novos produtos, justamente por ter pontos de vista, experiências e conhecimentos diferentes.
  • Melhora a competitividade já que os produtos inovadores dialogam com a sociedade e se adaptam a diferentes necessidades e linguagens.
  • Inovação também traz o aumento no faturamento da empresa.
  • Melhora da imagem da empresa perante a sociedade e perante as pessoas que já trabalham nela, pois elas vestem a camisa, se sentem engajadas e se sentem parte de um propósito que não são só os produtos e serviços.
  • Impacto nos investimentos. Investidores e fundos de investimentos estão cada vez mais investindo em empresas que consigam demonstrar a diversidade e inclusão de maneira efetiva.
Diversidade no mercado de trabalho traz diversos ganhos para as pessoas, a empresa e os demais colaboradores

Como trabalhar a diversidade nas empresas? 

Ao mesmo tempo em que comemoramos que a discussão sobre temas como a diversidade tem se tornado cada vez mais comuns nas empresas, para que a inclusão aconteça, ainda é preciso que as empresas adotem a uma cultura verdadeiramente inclusiva.

“Na Integra Diversidade, abordamos de uma perspectiva transversal e interseccional. Nós acreditamos que a cultura da diversidade deve ser ampla e não compartimentalizada por grupos de afinidade, por identidades rígidas e específicas. Isso porque todo mundo tem vários tipos de identidades e não é interessante tentar encaixar em um só tipo de classificação. Ela deve ser trabalhada de uma perspectiva ampla e transversal, que seja parte da cultura de todas as pessoas de dentro da empresa. Que as pessoas, por exemplo, homens, brancos e heterossexuais, consigam entender a importância e sejam aliados dessa cultura. Acreditamos que trabalhar dessa maneira que seja mais efetivo e eficaz para as empresas.”, explicou Keyllen Nieto.

Como seria um processo seletivo inclusivo? 

Para que a diversidade no mercado de trabalho exista, é necessário que as empresas quebrem muitas barreiras e mudem sua cultura de dentro para fora, fazendo com que todos da corporação tenham o mesmo pensamento e defendam as mesmas ideias. 

“Esta é uma questão complexa, pois existem as questões dos viés inconscientes, que são reais e impactam em quem pode entrar. Muitas vezes as chamadas para as vagas já pratica a exclusão, por isso a linguagem inclusiva é fundamental. Inclusiva de gêneros, quanto estimulando a participação de grupos amplos ou específicos da população.”, disse Keyllen Nieto, fundadora da Integra Diversidade. 

Para ela, é importante revisar outros processos que fazem parte de uma contratação, por exemplo, permitir o nome social para pessoas trans. “Você deve saber quais perguntas você não deve fazer para pessoas trans, imigrantes e refugiados. É necessário ter um processo de formação para as pessoas que vão participar da cadeia de tomada de decisão sobre a seleção destas pessoas. Isso engloba o recursos humanos e as pessoas da gestão que precisam estar cientes.”, explicou.

“É uma área que deve ter estratégias qualificadas, consistentes, permanentes para eliminar filtros excludentes que as empresas não sabem que estão aí, que futuramente se refletem em resultados de contratação pobres. Por exemplo: a exigência de inglês já exclui uma boa parte da população trans e negros. Por isso a empresa precisa entender quais os públicos ela precisa e focar para adaptar os processos.”, argumentou. 

Uma tecnologia muito usada pelas empresas são os softwares que fazem processos seletivos às cegas, ou seja, sem fotos, sem nome, lugar de residência e demais informações do candidato, onde ele é avaliado integralmente pelo seu currículo.

“Não há processo seletivo igualitário, pois muitas vezes ele já está adaptado a contratar um tipo de perfil. É necessário adaptar para incluir diversas necessidades e focos específicos sem esquecer da missão e das competências mínimas necessárias que não devem ser ignoradas para incluir pessoas diversas., disse Keyllen.

Como uma pessoa pode incentivar a diversidade dentro da empresa que trabalha? 

Se uma empresa ainda não possui uma cultura plural e inclusiva, as pessoas que já trabalham nela podem ajudar dando ideias e sugestões para setores específicos, como o RH. Por não parecer uma tarefa fácil, mas quando muitas pessoas possuem os mesmos ideais e se unem por uma causa, podem ser ouvidas pela empresa mais facilmente.

Para Keyllen, incentivar iniciativas e mudanças na cultura empresarial é o caminho. 

“Logo desde a entrevista, muitas pessoas já querem saber se há programas de inclusão e diversidade na empresa, se podem propor ações e campanhas. Mesmo quando isso não acontece, cada vez mais temos pessoas incentivando trabalhar nestes temas, por exemplo, o que tem acontecido atualmente com o racismo e a LGBTfobia. Além da contratação, essa cultura deve estar na comunicação interna, antes da externa, criando uma cultura própria da empresa que responda aos desejos e as necessidades e exigências de clientes e da sociedade inteira.”, disse.

Diversidade no mercado de trabalho: empresas precisam adotar cultura inclusiva para praticarem a diversidade

Quais os desafios que o mercado de trabalho ainda precisa enfrentar para ser verdadeiramente inclusivo?

Para Keyllen, “quanto maior a empresa, maior a burocracia e níveis hierárquicos, por isso é mais difícil mudar uma cultura consolidada já estabelecida”. Por esse motivo, a cultura de inclusão e diversidade precisa contar com o envolvimento de todas as pessoas que possuem poder na tomada de decisão, como presidência e diretoria. 

“Os desafios estão mais difíceis nestes casos, porém elas estão percebendo que não é moda e sim fator para se relacionar com a sociedade e os stakeholders. As resistências precisam ser trabalhadas com base no diálogo, mediação de conflitos e uma cultura de comunicação não violência.”, concluiu a especialista. 

Agora que você já aprendeu um pouco sobre como funciona a diversidade no mercado e trabalho, que tal buscar entender como a sua empresa está tratando sobre essa questão? E, caso ela ainda não tenha uma cultura inclusiva, é a hora de incentivar essas mudanças.