Modelo que mescla atuação no home office e no escritório já é tendência, mas a empresa precisa garantir a mesma experiência e benefícios para todos os colaboradores.
Se o desafio de 2020 foi entender como se adaptar ao home office, o de 2021 é garantir a mesma experiência e benefícios para todos os colaboradores no modelo híbrido de trabalho.
Este formato vem se consolidando cada vez mais entre as empresas brasileiras, ao encontro do desejo de boa parte dos trabalhadores. Uma pesquisa da McKinsey & Company identificou que 52% dos entrevistados preferem um modelo de trabalho mais flexível no pós-pandemia, e quase 30% relataram considerar mudar de empresa se a organização os obrigasse a ter uma atuação 100% presencial.
Mas o trabalho híbrido traz desafios que precisam ser levados em consideração, principalmente do ponto de vista da cultura organizacional. Como garantir, por exemplo, que as pessoas que estão trabalhando remotamente terão a mesma experiência de quem está na sede da empresa?
Renato Navas, Head de People Success da Pulses, startup que tem soluções de clima organizacional medidos de forma contínua, explica que ter dois ambientes de trabalho distintos pode acabar trazendo uma desigualdade para os colaboradores, que podem ficar receosos de optar pelo home office e ficar “por fora” do que acontece no escritório.
Desigualdades no trabalho: O calor humano
“Naturalmente, quem estiver trabalhando presencialmente vai acabar tendo mais convívio com o ‘calor humano’ de compartilhar aquele ambiente com outras pessoas que não a própria família, como é o caso de quem vai permanecer em home office.
Por isso é importante tomar algumas medidas para que todos estejam na mesma página, recebendo as mesmas informações e materiais de trabalho, participando igualmente na tomada de decisões e sendo atualizados ao mesmo tempo sobre as novidades da empresa”, explica Renato.
Desigualdades no trabalho: Traçar trajetórias
Navas também destaca que é essencial traçar estratégias que afastem a sensação de frieza da tela do computador, para fomentar vínculos e relacionamentos. “Ter rituais de feedbacks 1:1, criar squads online onde os colaboradores possam organizar projetos ou até buscar parcerias com coworkings da cidade onde a pessoa mora são ações interessantes para gerar um senso de humanização no trabalho”, comenta.
Especialistas de empresas que adotaram o modelo híbrido de trabalho ou têm auxiliado organizações nesse processo, por meio de suas expertises, apontam que a tecnologia é uma excelente aliada nesse momento.
Segundo eles, ela pode ajudar a criar uma cultura de transparência e confiança, que vai fazer toda a diferença na produtividade e engajamento dos colaboradores, independente de estarem trabalhando remota ou presencialmente. Confira 6 dicas que podem ajudar a reduzir a desigualdade de ambientes no trabalho híbrido:
Desigualdades no trabalho: 1. Escute os colaboradores continuamente
Na dúvida se as pessoas que estão em casa se sentem prejudicadas de alguma forma em relação às que estão na empresa? Pergunte! A pesquisa de clima organizacional é uma excelente aliada para entender como os colaboradores estão se sentindo e, se feita com frequência, pode ajudar a entender gargalos e pontos de melhoria com muito mais rapidez.
“Com o home office os líderes não conseguem mais ter uma percepção visível do humor da equipe de forma informal, naquele momento de descontração do café ou observando as pessoas trabalhando.
Com a escuta contínua, mesmo a distância, é possível mostrar que as pessoas realmente importam para a organização e atuar de forma muito mais rápida e certeira sobre o que precisa ser melhorado na empresa”, destaca Navas.
Desigualdades no trabalho: 2. Mantenha o time atualizado e integrado com iniciativas periódicas
Além de medir o clima organizacional, é fundamental manter ações periódicas para alinhamento geral com toda a empresa — tanto os colaboradores em home office, como aqueles em trabalho presencial.
Na fintech Asaas, a diretoria realiza uma reunião de alinhamento geral semanalmente. “Apresentamos números e novidades, comemoramos os aniversários e respondemos dúvidas dos colaboradores.
É um espaço aberto, que permite que todos se sintam parte da instituição e ainda aumenta a transparência da gestão”, comenta o Vice-Presidente e Cofundador, Diego Contezini. A empresa, que está transformando a sede em Joinville (SC) em um espaço de coworking para adotar o trabalho híbrido de forma permanente no pós-pandemia, também tem investido em iniciativas para ampliar a integração interna.
Um exemplo é a utilização de uma plataforma de comunicação virtual que sorteia 30 minutos de conversa entre colaboradores de diferentes áreas.
Desigualdades no trabalho: 3. Seja “remote first”
Ainda que só uma minoria dos colaboradores tenha optado por ficar em home office, a empresa precisa manter uma mentalidade de “remoto primeiro”, onde o ambiente online é o padrão e as decisões são tomadas priorizando quem não está na sede da empresa.
É assim que vai ser na Softplan, uma das maiores desenvolvedoras de softwares do Brasil, que já decretou o modelo híbrido para quando a pandemia acabar. Mesmo para quem optar pelo home and office, com dias de atuação no escritório e em casa, 60% do tempo deverá ser remoto, com média de 2 dias por semana na sede.
Para isso, a empresa já está mudando toda a infraestrutura de TI para que ela funcione de forma 100% remota, investindo em novos computadores para toda a equipe e em sistemas de cyber security, redefinindo seu espaço físico para funcionar com estações flutuantes de trabalho (como um coworking) e criando novos rituais corporativos.
“Nós buscamos um modelo que contemple ao mesmo tempo autonomia e responsabilidade. Acreditamos que o trabalho remoto é mais do que o home office, é onde você se sente feliz e produtivo. É confiar que as pessoas estão engajadas e que estão realizando seu trabalho de onde quer que elas estejam.
Por isso, adotamos fortemente o mindset ‘remote first’, com rotinas, planejamento e equilíbrio ainda maior entre vida profissional e pessoal”, comenta Tatiana Back, Business Partner de Gente & Cultura da Softplan.
Desigualdades no trabalho: 4. Invista em um software de gestão empresarial completo
Os ERPs (softwares de gestão empresarial) já são excelentes aliados do home office por si só, porque organizam, automatizam e integram diversos processos e setores do negócio, o que faz toda a diferença quando o time está trabalhando remotamente.
Mas algumas empresas vão além: a WK Sistemas, empresa referência em ERPs, tem um recurso para registrar “recados digitais” dentro do próprio software – o PiN, uma plataforma integrada de produtividade e colaboração.
Com ele, os usuários podem vincular anotações para si próprios ou para todos os participantes da tarefa no próprio processo, evitando que informações importantes se percam ou sejam esquecidas. “Nós percebemos que muitos usuários tinham alguns controles paralelos, como planilhas ou post-its, e isso acaba prejudicando a comunicação no home office.
Com a nossa ferramenta, é possível usar anotações vinculadas aos registros no próprio sistema de forma individual ou entre setores. Se, por exemplo, o time de vendas precisava avisar o time de expedição sobre algum detalhe importante sobre um determinado pedido de um cliente, era comum essa informação transitar através de e-mails ou outros controles paralelos.
Com o PiN, essa comunicação é realizada dentro do próprio ERP, mantendo o registro histórico vinculado diretamente no pedido ou no cliente, otimizando a organização e produtividade”, explica Marcio Tomelin, Diretor de Produto e Mercado da WK.
Desigualdades no trabalho: 5. Transponha capacitações e treinamentos para o ambiente virtual
A tecnologia permite que as empresas proporcionem iguais oportunidades de desenvolvimento profissional e capacitação aos colaboradores – estando eles em casa ou no escritório – ao adotarem programas educacionais digitais.
“Transpor um curso presencial para online não é, simplesmente, adaptar. Mas pensar no conteúdo educacional de maneira digital”, ressalta o CEO do DOT digital group, Luiz Alberto Ferla.
A empresa é especializada em educação digital corporativa há 25 anos. Há diversas ferramentas disponíveis, mas as plataformas do tipo Learning Management System (LMS) são consideradas as mais eficazes, pois permitem unificar diversas soluções em um único sistema de gestão de ensino a distância.
“Um LMS inteligente possibilita estabelecer regras, indicar conteúdos e progressão de desempenho, promover engajamento e mensurar resultados, considerando cada colaborador, tanto em relação às suas necessidades individuais quanto às metas estabelecidas”, explica a especialista em Educação Corporativa do DOT digital group Sueli Andrade.
Cursos em formato de vídeos, em podcasts, infográficos, quiz, ou mesmo videoaulas, para serem acessadas por meio de desktops ou dispositivos móveis, são alguns dos exemplos do que pode ser adotado.
Desigualdades no trabalho: 6.Tenha flexibilidade nos benefícios
Diante das diferentes realidades no modelo de trabalho dos funcionários dentro de uma mesma organização, as empresas precisam adaptar os benefícios oferecidos.
Bruno Rodrigues, diretor da Vertical Peopletech da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e CEO da GoGood, startup de bem estar corporativo, explica que é fundamental as empresas terem flexibilidade e buscar novas alternativas, já que alguns benefícios básicos antes oferecidos ( como vale-transporte) deixam de fazer sentido para quem está de home-office e têm novas necessidades, como auxílio para internet e questões de saúde física e emocional.
“As pessoas têm necessidades diferentes conforme a realidade em que vivem, e vemos uma piora da saúde mental que precisa ser olhada com atenção pela empresa. É papel da organização colaborar por meio de uma oferta de benefícios flexíveis, que atenda a todos, independentemente se estão no home office ou no escritório, ou cada dia em um lugar”, explica.
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