Consumidor com deficiência: representatividade e valorização, esse é o tema do artigo de hoje escrito por Carolina Ignarra, CEO da Talento Incluir.
Pela definição do dicionário “consumidor” significa ‘aquele que adquire mercadorias, riquezas e serviços para uso próprio ou de sua família; comprador, freguês, cliente.
Mas, atualizando essa definição, o melhor sinônimo para esse termo ainda pode ir além.
Hoje, o consumidor é aquele que além das possibilidades, também precisa usufruir de mais acessibilidade para adquirir produtos e serviços com equidade, de forma justa, segura e sem distinção devido a sua condição, cor, raça, gênero etc.
A digitalização do consumo já estava em transformação, a pandemia acelerou e passou a exigir neste último ano – entre outros desafios – a quebra da barreira de acessibilidade, que excluí alguns consumidores.
Consumidor com deficiência: Direito ao consumo
Nós, as pessoas com deficiência, também temos direito ao consumo. De acordo com dados apresentados no Fórum Econômico de Davos no ano passado (2020), existe 1,3 bilhão de pessoas no mundo com alguma limitação. Um grupo expressivo de consumidores, não?
Mas, mesmo com esse número significativo, as pessoas com deficiência ainda não são percebidas e respeitadas como consumidoras, diferente de outros marcadores sociais, com números bem menores ao redor do mundo.
No Reino Unido, por exemplo, há enorme mercado de ofertas e variedades para 1,4 milhão de veganos, mas não para 13 milhões de pessoas com alguma deficiência na região, segundo os dados do painel apresentado em Davos.
Assim como veganos, pertencemos a um nicho específico, mas tão consumidor em potencial quantos os demais.
Consumidor com deficiência: De acordo com o IBGE
É preciso lembrar que só no Brasil, de acordo com dados do IBGE, mais de 24% dos brasileiros (46 milhões de pessoas) possuem algum tipo de deficiência e esse público vêm conseguindo espaço no mercado de trabalho, consequentemente aumentando seus poderes de compra.
Em um rápido exercício de memória, fico aqui tentando enumerar as barreiras e dificuldades que encontramos para consumir.
A falta de informação sobre o poder aquisitivo das pessoas com deficiência impede o crescimento de ofertas de produtos e serviços para um público que está cada vez mais consumindo. Isso, porque estamos cada vez mais sendo gestores das nossas próprias carreiras profissionais.
As possibilidades que estão sendo abertas nas empresas que têm como meta aprimorar suas culturas de inclusão e diversidade, além de simplesmente cumprir a lei de cotas, estão trazendo benefícios inegáveis ao nosso poder de compra.
Lojas, supermercados, serviços, já começam a perceber as vantagens de se tornarem mais acessíveis – especialmente em tempos de pandemia – para impactar positivamente a reputação sim, mas principalmente, porque estão entendendo que a inclusão de consumidores com deficiência como ‘público-alvo’ é estratégica vital para o futuro próximo.
Consumidor com deficiência: A digitalização
Do pequeno comércio de bairro a grandes lojas de magazine, a digitalização imposta pela pandemia foi inevitável e junto com ela a acessibilidade dão novo significado à expressão: “vender mais”.
As barreiras para o consumo ainda são inúmeras e começam a partir da comunicação. De um atendente de telemarketing, um site de compras a uma campanha publicitária, o que nós queremos é saber que somos considerados para a criação e lançamento de um produto ou serviço.
As marcas têm se comunicado com demais marcadores sociais como de raça, gênero, comunidade lgbtqia+, religião, mas ainda não encontramos muitas iniciativas que visam atender ao público com deficiência.
A exemplo disso, os bancos de imagens disponíveis chegam a desenvolver conteúdos sobre as pessoas com deficiência, mas de forma inadequada, utilizando modelos fotográficos e elencos que evidentemente não são pessoas com deficiência, provavelmente pela falta de conhecimento sobre esta população.
Consumidor com deficiência: Casting enorme
Nós na Talento Incluir, temos um casting enorme e diversificado de modelos com deficiências variadas e reais à disposição para essas ações, mas essa informação ainda não chega à sociedade
Além disso, muitos desses conteúdos insistem em terminologias e expressões que já estão em desuso por não representarem de forma alguma o público mais conectado, moderno e aberto a ser comunicado.
Ao contrário do que os comportamentos capacitistas entendem como verdades, as pessoas com deficiência estão descobrindo um mundo de possibilidades que o comércio ainda não conseguiu acompanhar na mesma velocidade.
Não compramos apenas remédios, próteses e órteses, cadeiras de rodas e produtos de higiene pessoal. Queremos e compramos muito mais que isso.
Viajamos nas nossas férias, fazemos turismo onde cabemos e somos bem recebidos. Queremos comprar roupas bacanas, feitas também para atender às nossas expectativas, porém com as mesmas referências de moda que chegam aos demais consumidores.
Queremos carros, queremos usar o estilo das estrelas de cinema e as maquiagens que realçam nossa beleza, o perfume para sermos percebidos e o tênis esportivo que combina com nosso estilo.
Consumidor com deficiência: Muito mais que ter é ser
Aliás, muito mais que ‘ter’ nós queremos ‘ser’ tudo isso! Queremos estar representados como gente que se desenvolve profissionalmente, que brilha, que busca e alcança o sucesso.
Sua comunicação, empresas, precisa nos considerar em todas as fases, do desenvolvimento do produto ao seu lançamento no mercado.
A acessibilidade precisa estar nas suas campanhas, nas suas redes sociais e, antes de tudo, na sua cultura. Oferecer produtos de interesse e da forma adequada a diversos públicos e por meios que permitem acesso, sem distinção, é a melhor forma de humanizar as suas relações de negócios. É a mais atual tradução de conexão e respeito com o consumidor.
Consumidor com deficiência: Sobre Carolina Ignarra
Carolina Ignarra é CEO e fundadora da Talento Incluir, consultoria que já incluiu mais de 7 mil profissionais com deficiência no mercado de trabalho. Está entre as 20 mulheres mais poderosas do Brasil da revista Forbes em 2020.
Em 2018 foi eleita a melhor profissional de Diversidade do Brasil, segundo a revista Veja da editora Abril. Desde 2004, atua em programas de implantação de cultura de Diversidade e Inclusão nas organizações e desenvolve a inclusão socioeconômica de profissionais com deficiência.
É palestrante em importantes congressos e eventos sobre o tema inclusão, como: HR Results2019 e 2020; Kennoby 2019; Encontro de Cidadania Corporativa da Revista Gestão & RH desde 2005; CBTD (Congresso Brasileiro de Treinamento e Desenvolvimento) desde 2007; RH Congresso 2014; Fórum Vagas 2014; 1º Congresso de Acessibilidade 2014; CONCARH Santa Catarina em 2013, 2015 e 2020; Congresso de Gestão APAS Show 2017; 2º Congresso Goiano de Gestão de Pessoas com Deficiência e Reabilitados pelo INSS.
Além disso, também é autora dos livros: “INCLUSÃO – Conceitos, histórias e talentos das pessoas com deficiência” (disponível para download no site da Talento Incluir) e “Maria de Rodas – delícias e desafios na maternidade de mulheres cadeirantes”, com outras amigas cadeirantes.
Também é cocriadora dos Jogos Cooperativos: “Em tempo” – propõe diversidade na prática; “Árvore da Diversidade” – permite que aos participantes discutir os diferentes temas e situações, na busca de soluções coletivas e “Voo da Inclusão” – desenvolvido para fortalecer o conhecimento sobre atendimento às pessoas com necessidades especiais.
Consumidor com deficiência: Sobre a Talento Incluir
A Talento Incluir é uma consultoria pioneira em Diversidade e Inclusão no Brasil que oferece soluções estratégicas às empresas para a promoção da equidade nas relações humanas.
Desenvolve projetos de Consultoria e Assessoria Executiva utilizando quatro pilares: Conscientização e Engajamento, Contratação, Acessibilidade e Consultoria Estratégica de Marketing e Comunicação.
Fundada em 2008, a Talento Incluir já proporcionou emprego mais de 7 mil pessoas com deficiência a partir de uma preparação exclusiva e diferenciada.
Além disso, aplicou programas de treinamentos para formar e fortalecer a cultura de inclusão em mais de 400 empresas de diversos setores em todo Brasil, como Mercado Livre, Syngenta, Gol, Carrefour, Grupo Boticário, Raia Drogasil, Bradesco, Tereos, PwC PricewaterhouseCoopers, GRU Airport, AccorHotels entre outras. Site: https://talentoincluir.com.br/.
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