Uranio Bonoldi aponta que sem valores e princípios bem definidos, ações de cunho socioambiental são inócuos.
Uma das principais tendências do mundo corporativo atual é governança ambiental, social e corporativa (na sigla em inglês, ESG – Environmental, social, and corporate governance). As companhias têm desenvolvido áreas específicas para esse setor, com profissionais especializados em promoção de preceitos socioambientais. Contudo, segundo o escritor Uranio Bonoldi, especialista em negócios e tomada de decisão, as empresas devem estar atentas para que a adoção do ESG não seja meramente burocrática, sem o norte dos princípios éticos.
“Sob esse aspecto, e sem medo de errar, afirmo que da sigla ESG, o “G” (governance), ao contrário do que muitos pensam, passa a ser a disciplina de maior importância, pois a governança da empresa que dará a orientação e deverá ser a grande responsável pela prática genuína de uma gestão voltada às pessoas e ao ambiente de forma sustentável”, destaca Uranio.
De acordo com o escritor, antes mesmo de contratar uma equipe de profissionais para essa área, o gestor deve se perguntar quais são os valores e princípios da empresa que vão guiar e dar forma ao ESG. Essa etapa básica é fundamental e nem sempre recebe a devida atenção no mercado.
“Infelizmente, muitos empreendedores ainda não têm a definição exata de quais parâmetros a empresa e seus colaboradores devem seguir. Lembrando que ética não é algo que pode ser regulado apenas por leis e normas externas, mas também por reflexões internas e atitudes, que muitas vezes surgem diante de situações de alta complexidade e imprevisíveis”, pontua.
Em seu livro “Decisões de alto impacto: como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos negócios”, Uranio Bonoldi trabalha com a definição de ética proposta pelo filósofo iluminista Immanuel Kant, apoiado por outros filósofos, segundo os quais o que deve guiar os seres humanos é a razão, pautando-se na pergunta: “isso será bom para o coletivo?”.
“Significa escolher entre o ‘eu’ e o ‘nós’. Se a decisão estiver centrada unicamente em atender aos nossos interesses pessoais, ou apenas de grupos aos quais pertencemos, em detrimento dos outros integrantes da organização, de partes relacionadas, teremos uma escolha assentada em base fraca. Ao contrário, se o que se busca é o benefício para o maior número possível de pessoas que estão inseridas no contexto, essa será uma decisão em base forte”, afirma o escritor.
Estando consciente de valores éticos, é possível formar uma equipe de profissionais devidamente qualificada e alinhada com esses princípios, que consiga atender às demandas da empresa. “Governança ambiental, social e corporativa é um tema transversal. Dentro de uma empresa, não pode estar isolado, como uma área à parte que apenas realiza projetos pontuais. É, de fato, um dos pilares do mundo corporativo contemporâneo, promovendo práticas que reduzam significativamente os impactos socioambientais dos negócios e imprimam a prática da ética nas relações organizacionais”, pondera.
O risco da desatenção a esses aspectos é deixar que o ESG se torne um setor inexpressivo, sem que de fato cumpra o seu compromisso, encarado apenas como um modismo ou uma estratégia de marketing.
“E há um preço a se pagar por essa falha. Os clientes hoje estão mais atentos à qualidade do que lhes é oferecido e à prática da ética nas organizações. Se não ficarem satisfeitos, têm o poder, por meio das mídias sociais e outros dispositivos legais, de acabar com a reputação das empresas. É necessário atenção e respeito – tanto aos clientes quanto aos profissionais de ESG, ao meio ambiente, à sociedade e à própria empresa. Percebe porque destaquei a importância da governança na prática do ESG?”, finaliza.
Sobre o autor
Uranio Bonoldi é palestrante e especialista em negócios e tomada de decisão, é professor do Executive MBA da Fundação Dom Cabral, onde leciona sobre “Poder e Tomada de Decisão”. Educado pelo método Waldorf, sua graduação e em seguida a pós-graduação em administração de empresas foi feita na FGV-SP. Atuou em grandes empresas como diretor e CEO.
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