O mito da liderança extrovertida e carismática impera no imaginário da cultura ocidental, ainda que nossa história seja repleta de exemplos de grandes líderes de personalidade introvertida.
Abraham Lincoln, Isaac Newton, Albert Einstein, Bill Gates, Larry Page entre outras inúmeras figuras de sucesso, compõem esse time silencioso – que é bem maior do que se imagina. Porém, quase sempre, pouco valorizado e pouco compreendido.
Uma das razões é que as sociedades ocidentais privilegiam o ‘homem de ação’ em detrimento do ‘homem de contemplação’. Isso estaria associado ao ideal modelo greco-romano, que enaltece a oratória e a expressão corporal.
Não por acaso, desde a infância, somos convencidos de que ser sociável, falante é demonstração de felicidade, saúde, esperteza etc. Já o contrário, é sinônimo de tristeza, antipatia e, até mesmo, indicativo de doença.
O poder silencioso: Merece uma atenção
O tema merece atenção por parte dos profissionais de Recursos Humanos, além das questões de gênero, raça, idade, é preciso também olhar para os diferentes perfis comportamentais. Eles formam mais um marcador social da Inclusão e Diversidade. Isso certamente potencializará os resultados esperados em termos de produtividade, conforme apontam tendências.
Embora no Brasil sejam raros os estudos que se aprofundem nesse tipo de perfil comportamental, podemos tirar como base uma infinidade de publicações norte-americanas a respeito deste universo.
Por lá, estima-se que entre 30% e 50% da população seja considerada introvertida – conforme estudos da escritora Susan Cain, uma das maiores pesquisadoras do assunto, autora do livro: ‘Silêncio: O poder dos introvertidos em um mundo que não consegue parar de falar’.
O poder silencioso: A análise
A partir de uma análise empírica e minuciosa sobre esse perfil, ela conclui que os introvertidos são profissionalmente menos valorizados que os extrovertidos. Introvertidos costumam ganhar menos, segundo Cain. Também costumam ser menos compreendidos pelos pares, em razão da postura mais solitária, pensativa e naturalmente reservada.
Isso também, por óbvio, se traduz no ambiente corporativo. Nos Estados Unidos, segundo o Gallup, 98% dos executivos de alto escalão são considerados extrovertidos (dados de 2017). Número semelhante (96%) foi constatado por estudo das universidades de Harvard e da Carolina do Norte, publicado no Academy of Management Journal, em 2019 – desta vez, entre gerentes e executivos.
No caso dos introvertidos, quando o assunto é liderança no ambiente de trabalho, repetidos estudos de pesquisadores de Harvard, Stanford, Chicago e outras grandes universidades, destacam a potencialidade desse tipo de perfil, sobretudo, em funções de comando.
O poder silencioso: O mais recente
O mais recente (de 2019), publicado no International Journal of Multidisciplinary Research and Development, conclui que os introvertidos tendem a ser mais assertivos, pois são melhores ouvintes, calculam melhor o uso das palavras e, consequentemente, lidam melhor com as crises. Também são menos propensos a decisões equivocadas.
Isso, todavia, não significa que devam necessariamente ocupar todas as posições de liderança. Até porque, essas mesmas análises também são consensuais quanto à tese do ‘equilíbrio’ do ambiente de trabalho. É preciso olhar para a importância da diversidade de personalidades como elemento fundamental para harmonia e melhor performance das equipes.
O poder silencioso: Perfis complementares
Introvertidos e extrovertidos devem ser perfis complementares (e não excludentes), e que contribuem cada qual à sua maneira para a produtividade de um grupo. Aos primeiros, em especial, é certo que devem ser mais reconhecidos, mais vistos, mais lembrados. A ‘mistura” dos diferentes comportamentos é sempre saudável.
O poder silencioso: Juliana Algodoal
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