Garis enfrentam problemas: Em média, cem trabalhadores se ferem anualmente com objetos cortantes ou pontiagudos, segundo a SLU.
Ontem dia 16 de maio foi comemorado o Dia do Gari. A data busca conscientizar a população acerca da importância do cargo e homenagear os profissionais responsáveis por manter as ruas, praças e praias limpas de todo o lixo gerado naturalmente ou por ação do ser humano. No Brasil, os garis não recebem o devido respeito e visibilidade que merecem. Segundo dados disponibilizados pela SLU (Superintendência de Limpeza Urbana), em média, cem trabalhadores se ferem todos os anos com objetos cortantes ou pontiagudos.
O levantamento ainda aponta que os objetos com que eles mais se machucam são cacos de telhas e de vidros, espetinhos de churrasco, seringas e agulhas. Em Rondonópolis, a 218 Km de Cuiabá, durante a coleta, cerca de quatro acidentes de trabalho com garis foram registrados por mês em 2019 pelo descarte incorreto de objetos cortantes. Dados do Smartlab, iniciativa pertencente ao Ministério do Trabalho, apontam que a acidentalidade no setor de coleta de resíduos não-perigosos teve um aumento de 6,2% de 2021 para 2022.
Para Alex Araujo, CEO da 4Life Prime Saúde Ocupacional, uma das maiores empresas no segmento de saúde e segurança do trabalho, a utilização de equipamentos de proteção (EPIs) como luvas, uniformes com camisa de manga comprida, calça e calçados fechados tipo bota, são itens essenciais para a preservação da integridade física do servidor que trabalha com limpeza urbana.
“A profissão possui vários tipos de riscos. Riscos químicos, físicos, biológicos, ergonômicos e mecânicos. No momento da recolha, é comum que o profissional tenha contato com objetos cortantes, tintas e lixos orgânicos, que podem expor o profissional a graves riscos de saúde, caso não utilize os equipamentos adequados”, explica.
Em São Paulo, diariamente é percorrida uma área de mais de 1.500 km² e estima-se que mais de 11 milhões de pessoas são beneficiadas pela coleta. Cerca de 3,2 mil pessoas trabalham no recolhimento dos resíduos e são utilizados mais de 500 veículos (caminhões compactadores e outros específicos para o recolhimento dos resíduos de serviços de saúde). A cidade gera, em média, 18 mil toneladas de lixo diariamente (lixo residencial, de saúde, restos de feiras, podas de árvores, entulho, etc.). Só de resíduos domiciliares são coletados quase 10 mil toneladas por dia.
Garis enfrentam problemas: Justiça do Trabalho
Em julho de 2022, um coletor de lixo, em Ribeirão Neves, Minas Gerais, ganhou na Justiça do Trabalho o direito de receber uma indenização por danos morais no valor de R$ 20 mil, após sofrer lesões durante o serviço de coleta de seringas descartadas inadequadamente. Na época, o profissional afirmou que conviveu com o receio de ter sido contaminado por vírus, como HIV, o vírus da hepatite B e hepatite C, o que lhe causou traumas psicológicos que persistem até hoje. Disse também que recebeu orientações na unidade de saúde, para realizar exames mensalmente, por um período de seis meses consecutivos, para averiguar as possíveis infecções.
Araujo reforça que o uso em massa do Ozempic – medicamento utilizado para tratar diabetes tipo 2 – mas que está sendo usado para a perda excessiva de peso, pode aumentar a incidência de acidentes por seringas. “O remédio custa cerca de R$1.100 e pode ser usado em casa. As pessoas, ao invés de descartar em um hospital ou em um lixo hospitalar, estão jogando em lixos comuns, pondo em risco a vida de milhares de profissionais de limpeza urbana”, explica.
No mesmo ano, um gari de 37 anos morreu depois de ser esmagado pelo sistema de compactação do lixo do caminhão em que ele trabalhava na cidade de Tiros, no Alto Paranaíba, MG. Testemunhas contaram à Polícia Militar que ele estava descarregando no lixão da cidade quando o motorista que manuseava a alavanca do do basculante que abre para despejar o lixo fechou o sistema e prensou a cabeça do gari.
Outro ponto necessário para a discussão, segundo o especialista, é a negligência da empresa contratante que, em alguns casos, opta por reduzir os custos da operação, disponibilizando equipamentos em más condições e não oferecendo treinamentos adequados para a sua utilização, o que aumenta a incidência de acidentes como visto em Minas Gerais.
As más condições de trabalho têm revoltado cada vez mais os profissionais do setor, que utilizam da mídia para denunciar os riscos e a insalubridade da profissão. Em 2020, o profissional Bruno Coelho de Lima, na época com 35 anos, vice-presidente da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) da gerência da empresa no Engenho de Dentro, localizado na Zona Norte do município do Rio de Janeiro, divulgou um vídeo com duras críticas às condições de trabalho dos garis nas redes sociais.
Na época, a Comlurb, Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro, aplicou uma punição ao autor da gravação. O vídeo foi feito no dia 15 de junho e denunciava as condições precárias de trabalho: “Há falta de luva, álcool gel e sabão no banheiro. Dizem que têm higienização, mas só lavam o chão”, disse o gari que atuava há 15 anos na Comlurb.
O gari trabalha debaixo do sol, vento, raio, trovão, da chuva e neblina. São vários os riscos que ele possui tanto no ambiente interno quanto externo.“Temos um índice de afastamento muito alto, em torno de 16 a 18%. É um público com bastante lesões, no tornozelo, no joelho, porque correm e se movimentam o tempo todo”, complementa Araujo.
Para ingressar no cargo, é preciso realizar um concurso público, onde é exigido do candidato nível de escolaridade fundamental e avaliações teóricas e físicas. A faixa salarial fica entre R$ 1.302,00 salário mediano da pesquisa e o teto salarial de R$ 2.007,02, sendo que R$ 1.317,93 é a média do piso salarial 2023 levando em conta profissionais em regime CLT no Brasil, segundo dados do site Salário, junto a dados oficiais do Novo CAGED, eSocial e Empregador Web.
O perfil profissional mais recorrente é o de um trabalhador com 33 anos, ensino médio completo, do sexo masculino que trabalha 44h semanais em empresas do segmento de coleta de resíduos não-perigosos. A cidade com mais ocorrência de contratações e por consequência com mais vagas de emprego para Gari é Fortaleza – CE.
“Em média, são produzidas 130 toneladas de lixo por dia no Brasil. O gari é uma profissão indispensável para a sociedade. Na pandemia, os profissionais estiveram na linha de frente da Covid-19. Do mesmo modo que o setor público requere qualidades e habilidades do profissional no momento da contração, é no mínimo plausível que o retorno dos esforços seja gratificado por meio de um ambiente profissional adequado e com equipamentos que assegurem a saúde e segurança no trabalho”, finaliza Araujo.
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