Motivação, Intenção, Ação – e Escolhas, esse é o tema do artigo de hoje escrito por Rosangela Souza.
A pandemia nos tirou a liberdade de ir e vir, o encontro presencial, algumas pessoas queridas, o emprego de alguns, mas o que nos motiva?
Mas é fato que algumas escolhas foram feitas. O que fazer com o tempo que sobrou sem as idas aos shoppings, restaurantes, festinhas e afins? Quase todos cuidaram mais da família e da casa.
Uns também estudaram – cursos, lives, livros, palestras, masterclasses – opções não faltaram. Outros estão assistindo mais séries, e agora assinam Netflix, Amazon e Disney+. Uns emagreceram, outros ganharam peso.
A pergunta aqui é… o que nos motiva a escolher fazer uma coisa e não a outra?
A palavra Motivação pode ser definida como Motivos para a Ação. Se quero uma promoção, tenho razões para trabalhar para consegui-la, portanto estou motivado. Se quero emagrecer, tenho razões para fazer atividade física. Se quero ser mais culta, tenho razões para ler mais. Bem simples. Mas quase nunca funciona.
O que acontece quase sempre é que estabelecemos objetivos, queremos chegar a algum lugar, damos alguns passos na direção e… nos sabotamos. Encontramos situações em nossa vida que nos desestimulam de caminhar naquela direção, que NÓS havíamos escolhido.
Podemos encontrar fatos que nos estimulam, mas… algo acontece no meio do caminho e fazemos a escolha errada. Eu quero acordar mais cedo para fazer atividade física, mas aí estico meu horário de trabalho na noite anterior, acabo terminando tudo mais tarde, durmo mais tarde e… não levanto.
O que nos motiva: As dúvidas do dia a dia
Eu quero fazer um MBA, mas aí compro um celular novo, tenho de pagar as parcelas, nunca sobra dinheiro, e eu não faço. Tem um enigma aí.
Se tudo tem de começar com um PORQUÊ, compreender nossos porquês é fundamental. Podemos querer algo, mas sem entender o porquê. E pode ser por isso que, embora a gente queira, a gente se sabote. O porquê tem de ser forte para nós. Ele é individual, tem a ver com nossa essência.
Há pessoas que se motivam (ou encontram seus porquês) por Dinheiro.
Quando em excesso, abrem mão do prazer, do descanso, da família, da saúde – por dinheiro. Outras, mesmo sabendo que vão ganhar mais se conseguirem aquela promoção, não se motivam a estudar ou a trabalhar um pouco mais. A reflexão aqui não é sobre quem está certo ou errado, mas sobre o que nos move.
O que nos motiva: O estudo do MIT
Um estudo do MIT (Massachusetts Institute of Technology) , realizado com estudantes de universidades americanas e com pessoas carentes da Índia, concluiu que se as tarefas a serem realizadas forem mecânicas, e as pessoas tiverem um nível cognitivo baixo, funciona a lógica comum de dar mais bônus para os que tiverem melhor performance, e nenhum bônus para os que tiverem performance ruim.
Os que tiverem melhor performance vão querer continuar a receber o dinheiro, e os que tiverem performance ruim vão querer melhorar, para ganhar algum. No entanto, se a tarefa requer maior nível cognitivo, criatividade e raciocínio, esta lógica não funciona.
Ou seja, mais bônus não motiva melhor performance. Se você conhece a pirâmide de Maslow deve ter pensado nela agora. Se a pessoa tem o suficiente para não pensar em dinheiro todo o tempo, ela começa a buscar outros drives de motivação.
O que nos motiva: Outras pessoas se motivam por Reconhecimento.
Quando elas têm esse drive em excesso, fazem loucuras para receber um elogio. São as preferidas do professor ou do chefe, se dedicam muito para serem reconhecidas e se sentirem apreciadas.
Facilmente manipuladas, até um bom líder pode cair na armadilha de nutrir a motivação dela, com elogios vazios. Quando falta a motivação extrínseca (de fora), ela cobra, e se não conseguir, definha, porque não aprendeu a encontrar motivação internamente.
O que nos motiva: Alguns de nós nos motivamos pela Tarefa Realizada
Adoramos colocar tudo em uma lista e ir fazendo, riscando itens. Nem pensamos muito se o que estamos fazendo é de fato relevante, porque o prazer está em realizar. Fazemos infinitas reformas em casa, sempre estamos com uma viagem sendo planejada para termos o prazer de realizar algo.
Nem mesmo terminamos, já estamos planejando outra coisa para fazer. Parece bom! Quando em excesso, o risco é não pararmos para curtir, apreciar o hoje, pois aprendemos que temos de ter e realizar planos, projetos para nos sentirmos vivos.
Aprendemos que futuro é o que importa. Esquecemos que tudo o que temos é o Presente mesmo, e que contemplar o hoje deveria ser um hábito.
O que nos motiva: Tem os que se motivam pelo Poder
Gostam de ensinar os outros, de serem consultados, de se sentirem mais cultos ou mais hábeis que os colegas em algum aspecto.
Gostam de ver que fizeram mais que os outros. Quando têm este drive em excesso, costumam ter dificuldade em ambientes colaborativos ou com a hierarquia horizontalizada. Querem se destacar e se desmotivam quando ninguém deixa.
O que nos motiva: A Autonomia também é um importante drive de motivação
Poder escolher o tipo de trabalho ou como desempenhá-lo. Em um curso, poder escolher o conteúdo, poder caminhar pela trilha que encontrou. Trabalhar ou estudar no dia e hora que quiser (mesmo tendo um prazo a cumprir).
Ter voz, poder construir junto e não apenas seguir, obedecer, cumprir. Tudo isso faz com que se tenha motivos para agir, motivos para a ação, motivação. Mas para alguns!
O professor queniano Peter Tabichi, ganhador do Prêmio Global Teacher Prize, nos lembra que é ilusão achar que todos os alunos estarão motivados. Mas mesmo assim, ele diz aos seus alunos que acredita neles, que confia neles. Ele não adota métodos centrados no professor, mas sim no aluno. Ele ajuda os alunos a criar inovação, a partir de suas próprias ideias. Ele define metas em conjunto.
E aquele prazer, aquela alegria que temos quando realizamos determinadas atividades?
Todos já experimentamos! E também aquela falta de vontade pra fazer algo. Nós somos educadores, e estudamos esses sentimentos relacionados ao estudo.
O fato é que aprendemos melhor quando estamos presentes e quando temos energia. Existem técnicas para isso. Uma das mais fáceis está ligada à liberação de dopamina no cérebro.
A dopamina atua no controle do movimento, da memória e da sensação de prazer. Ela é liberada quando uma atividade proporciona experiências agradáveis. Ouvir música está ligado à liberação de dopamina. Música e prazer estão associados.
Se estiver com pouco entusiasmo ao estudar algo que considera pouco agradável, faça uma pausa e ouça algumas músicas até ficar animado novamente. Especialmente aquelas que dão vontade de se mexer ou dançar. E ouças-as na mesma sequência sempre. Seu cérebro vai associar a música com motivação e vai começar a criar um hábito.
O que nos motiva: E há ainda quem se motiva pelo Propósito
Algo maior, que dá significado à existência. Um funcionário que se motiva pelo propósito poderia ser estimulado a dar aulas de graça em uma instituição – algo que ele aprende na empresa. Poderia ensinar para jovens em situação vulnerável em busca do primeiro emprego. Isso o motivaria, ele veria significado em seu trabalho.
Viver o propósito é entender o porquê da existência – e como nossa alma se expressa neste mundo no sentido da nossa evolução e da evolução dos outros. Talvez seja o estímulo mais nobre de todos. Mas ele também tem armadilhas, como a vaidade.
O fato é que a sociedade valoriza quem é motivado, quem realiza. E se você começou a ler este texto, é porque também quer estar motivado e/ou motivar alguém. Ao entender seus motivos para a ação – e motivos para a inação – você elimina as desculpas, a sabotagem.
E, de quebra, também percebe quando está realizando coisas por motivos que não vão trazer paz, amor e felicidade. A intenção com que fazemos quase sempre é mais importante que a ação em si.
Rosangela Souza (ou Rose Souza) é fundadora e sócia-diretora da Companhia de Idiomas. Em 1991, começou a Companhia de Idiomas com a Lígia Crispino. São sócias até hoje.
Graduada em Tradução/Interpretação pela Unibero, Licenciada em Letras, Especialista em Gestão Empresarial, MBA pela FGV e PÓSMBA pela FIA/FEA/USP.
Foi professora por seis anos na Pós Graduação ADM da FGV, quando morava em São Paulo, lecionando Estratégia Empresarial, Gestão de Pessoas, Empreendedorismo e Técnicas de Comunicação. Foi eleita pelos alunos uma das três melhores professoras das conveniadas FGV/ABC.
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