“Tudo muda o tempo todo no mundo”. O trecho da famosa música de Tim Maia nunca teve um significado tão profundo para o mercado de trabalho como nos últimos tempos. A velocidade com que a tecnologia se desenvolve provoca transformações constantes nas empresas e cria novas demandas profissionais a cada minuto. Segundo um estudo realizado pelo Institute for The Future (IFTF), 85% das profissões do futuro ainda não foram criadas. Portanto, é necessário estar preparado para o novo mercado de trabalho que já começou a se desenhar.
“A evolução da tecnologia traz questões relacionadas à automatização e a eficiência de processos, funções e atividades. Isso faz com que novas posições sejam criadas, outras deixem de existir ou existam em menor proporção”, explica Leonardo Berto, gerente de recrutamento da Robert Half. Mas, ao contrário do que pode parecer, o cenário pode ser muito positivo, desde que os profissionais sejam capazes de se adaptar. Embora cada vez mais tarefas sejam automatizadas, para Leonardo, as características humanas passam a ser mais valorizadas: “Mudam as atividades, mas o que a máquina ainda não substitui é justamente a habilidade humana de se relacionar. E isso vai ser muito importante no mercado de trabalho do futuro”.
Máquinas e humanos: parceria do futuro
Já se sabe que até 2030 cerca de 800 milhões de pessoas terão seus empregos automatizados no mundo inteiro, de acordo com um estudo do McKinsey Global Institute. Mas não se assuste quando ouvir que os robôs estão substituindo os humanos em muitas funções. Afinal, enquanto as máquinas fazem o trabalho repetitivo e previsível, os humanos podem desenvolver tarefas que envolvem criatividade, sensibilidade e estratégia. “O mercado de trabalho do futuro vai privilegiar muito as competências comportamentais, o que não significa uma perda de importância dos requisitos técnicos, mas uma evolução do mercado de trabalho”, comenta Leonardo.
Só para ilustrar esse cenário, Fabiana Reis, coach e consultora de carreira, cita a empatia e a adaptabilidade como duas das principais competências que já têm sido buscadas pelas empresas e serão cada vez mais exigidas dos profissionais. “Será fundamental ter jogo de cintura para lidar com as diversas mudanças inevitáveis nas empresas, sejam mudanças de equipe, de gestão, de direção, de estratégia ou de demanda”. Ou seja, quem insistir em manter-se preso ao passado, desatualizado ou resistir às transformações tecnológicas provavelmente enfrentará dificuldades no novo mercado de trabalho.
Competências do futuro
Mas, afinal, quais são as características que os profissionais deverão apresentar para ser bem-sucedidos em suas carreiras? Além da empatia e da flexibilidade, citadas acima, Leonardo acrescenta ainda competências como a comunicação, a habilidade de construir relacionamentos, a capacidade de inovação e a familiaridade com a tecnologia. Saiba mais sobre cada uma delas:
Comunicação: vai além da habilidade de se expressar bem, usando as palavras de forma adequada, assertiva e com entonação agradável. A habilidade de comunicação hoje abrange outras formas de expressão, como o visual e a postura. “Mas, principalmente, em um mundo globalizado e com tanta tecnologia, o domínio do inglês deixa de ser um diferencial para ser uma necessidade básica”, ressalta Leonardo.
Relacionamento: as empresas já se deram conta da importância de cultivar um ambiente colaborativo, em que as diversas áreas se compreendem e se apoiam. Por isso, pessoas com boas habilidades de relacionamento, capazes de transitar entre os diferentes níveis hierárquicos serão bastante valorizadas. Assim sendo, a recomendação do especialista é que o profissional abandone a atitude fechada, que compreende apenas o próprio departamento. “Cada vez mais, as diferentes áreas das empresas têm trabalhado de forma integrada e, portanto, umas dependem das outras”.
Criatividade e inovação: características já bastante valorizadas pelo mercado de trabalho atual, a criatividade e a capacidade de inovação serão determinantes para alavancar carreiras. “No futuro, o mercado vai buscar muito por profissionais que saibam como o processo já é feito, mas que tenham condições de elevar a função para um próximo patamar”, explica Leonardo. Assim, é importante estar atento e aberto às mudanças de cenário para perceber e, especialmente, para criar novas oportunidades de se chegar a resultados melhores, com mais eficiência.
Familiaridade com tecnologia: é natural que uma das protagonistas das transformações atuais esteja na lista das competências mais exigidas pelo mercado. Não apenas no nível de usuário, será cada vez mais necessário que os profissionais tenham conhecimentos mais aprofundados sobre as novas tecnologias. “O mercado já sofre uma carência de pessoas devidamente alinhadas às melhores práticas em termos de tecnologia. Essa já é uma necessidade hoje, mas no futuro esse alinhamento vai exigir familiaridade com linguagem de programação, com todo o raciocínio lógico que há por trás de uma ferramenta tecnológica, por exemplo”, acrescenta Leonardo.
Profissões do futuro
Um estudo recente da Robert Half apresentou algumas das profissões que mais sofrerão impactos no futuro. Algumas que já existem e estão sendo transformadas e outras, ainda, que muito provavelmente passarão a existir nos próximos anos.
Além dos avanços da tecnologia digital, o estudo também leva em consideração aspectos como a flexibilização dos modelos de trabalho – como os contratos por projeto, temporários e terceirizados – e uma tendência a fluidez do ambiente de trabalho, marcada por horários alternativos, home office, etc.
Conheça algumas das profissões de um futuro nada distante:
Cientista de dados: uma área que tende a crescer cada vez mais – e que ainda conta com poucos profissionais – a ciência de dados tornou-se uma necessidade para as empresas graças à importância de se armazenar, manipular e analisar informações de forma inteligente. Esse profissional é uma espécie de mistura entre um matemático, um cientista da computação e um atento identificador de tendências.
Perito digital: com a evolução da tecnologia cresce o número de crimes cometidos por meio dela. Por isso, surge a necessidade de profissionais que investiguem golpes virtuais, invasões a computadores e outros delitos cibernéticos. O perito digital irá cumprir tarefas como a análise de informações em dispositivos de mídia (celulares, computadores, etc.), rastreamento de IPs e a preservação de evidências. Mas além de conhecimentos específicos de tecnologia da informação, esse profissional deverá conhecer a linguagem jurídica e a legislação vigente sobre crimes virtuais.
Facilitador de educação à distância: com a adesão dos alunos ao aprendizado remoto, o professor deixa seu tradicional posto de trabalho e passa a interagir por meio de ferramentas online. A transformação desse profissional será no sentido de compartilhar e ouvir ideias e propor discussões saudáveis, distanciando-se da figura de um simples transmissor de conhecimento.
Coordenador de robôs: embora as máquinas estejam ganhando mais e mais território – especialmente na realização de atividades repetitivas e previsíveis – cresce a procura por profissionais que supervisionem esses robôs. Além de acompanhar o desempenho dos “funcionários eletrônicos” nas indústrias, os coordenadores de robôs também deverão realizar manutenções regulares e reparos emergenciais.
Gestor de equipes móveis: o home office já é uma realidade no Brasil e, tanto empresas quanto colaboradores, vêm experimentando os benefícios desse modelo de trabalho, que permite atuar de qualquer lugar do mundo. Mas, para que toda essa flexibilidade funcione de maneira produtiva, as empresas buscam por um gestor que seja capaz de coordenar profissionais em diferentes fuso-horários de forma estratégica.
Vendedor 2.0: fechar uma venda não será mais suficiente. O perfil do representante comercial que sabe convencer o cliente a comprar e negocia com base em preços mais baixos já é conhecido como “vendedor 1.0”. Ele foi ultrapassado pelo vendedor que compreende profundamente o cliente, pois utiliza ferramentas de big data e analytics, por exemplo, para saber quais são as preferências e necessidades de cada um. O profissional 2.0 deve ser capaz de realizar uma venda consultiva, ou seja, de atuar como um consultor, definindo junto com o cliente qual é a solução mais adequada para seu negócio.