Muito antes de tornar-se um videomaker, a magia do cinema já inspirava Theo Grahl Trindade. “Assisti a Indiana Jones e quis ser arqueólogo, via filmes de investigação e queria ser advogado… demorei um pouco para perceber que poderia criar as minhas próprias histórias”, relembra.
Depois de formar-se em Publicidade e Propaganda, abrir a própria agência e, em dois anos, ver-se obrigado a fechá-la, Theo decidiu entrar em contato com sua paixão, da maneira como era possível. Foi trabalhar em uma grande locadora de filmes e começou sua “formação” na arte do audiovisual, absorvendo o máximo que podia das obras a que tinha acesso. Com o dinheiro que conseguiu juntar, pagou um curso de operador de câmera e, antes mesmo de terminar, conquistou seu primeiro emprego como cinegrafista em uma produtora de vídeos.
Hoje, aos 43 anos, comanda sua própria empresa, a Mombak, focada em produção audiovisual, mas com personalidade própria. “Meu olhar está na produção, no contar a história, em vivenciar essa experiência que é a produção de um vídeo. Isso me inspira e me faz enfrentar as dificuldades”, conclui.
Muito além do play
Nessa entrevista, Theo fala sobre os desafios e conquistas de tocar o próprio projeto e dá dicas valiosas para quem deseja ingressar na carreira de videomaker.
Ele explica que esse profissional é responsável por todos os processos de produção de um vídeo: roteiro, captação, edição e finalização. “No meu entendimento, o videomaker prefere ter o controle do resultado do vídeo. Tem uma visão geral daquela peça e gosta de estar presente em todas as etapas, é o especialista do processo e não apenas do resultado.”
Quanto ganha um videomaker? O salário desse profissional pode chegar a R$ 5.000 (Fonte: Trampos)
PC: Você é formado em publicidade, certo? Como foi seu caminho até descobrir que o audiovisual era o que você queria?
Sim, me formei em publicidade e propaganda. Sou apaixonado por cinema desde pequeno. Pensando em minha formação, sempre me influenciei pelo cinema: assisti Indiana Jones e quis ser arqueólogo, assistia filmes de investigação e queria ser advogado… demorei um pouco para perceber que poderia criar as minhas próprias histórias.
Depois de me formar, montei uma agência de publicidade com um amigo da faculdade. Foram mais ou menos dois anos de empresa, mas éramos muito novos, não tínhamos uma percepção de mercado. Nossa veia empreendedora era focada na criação apenas, não tínhamos o ímpeto comercial e isso foi crucial para chegarmos ao ponto de terminar a sociedade pela falta de clientes.
Na época, minha filha tinha seis anos, as contas não paravam de chegar, o tempo estava passando e o sonho de trabalhar com audiovisual persistia. Tomei uma decisão: fui atrás de um emprego fixo e também do meu sonho. Vi um anúncio no jornal com uma vaga de atendente em uma locadora de filmes. O salário era suficiente para pagar as contas. Meu pensamento foi “esse é o começo”. E foi.
PC: Como você conduziu esse início?
A locadora tinha o maior acervo de filmes do Brasil e ficava em Higienópolis [bairro de São Paulo]. Eu pegava um filme por dia, mas em vez dos blockbusters, escolhia filmes de arte, clássicos, filmes dos grandes diretores. Foi minha escola sobre a história do cinema. Boa parte do público da locadora era de pessoas que trabalhavam na área e, com isso, eu tinha um contato com o mercado.
Foram seis meses na locadora, tempo para juntar uma grana para me matricular no curso de operador de câmera do SENAC. Na mesma época, voltei a fazer trabalhos freelancer de design, o que garantia o dinheiro das contas. O curso teve duração de seis meses, mas antes de terminar, meu professor me indicou para uma produtora. Foi meu primeiro emprego fixo como cinegrafista e lá conheci o futuro sócio da minha segunda empresa.
PC: O que faz um videomaker? Até onde vai o trabalho desse profissional?
Videomaker é uma pessoa que faz “sozinha” toda a produção de um vídeo. Roteiro, captação, edição e finalização. Dependendo do tamanho da produção, ele pode contar com outras pessoas para ajudar, mas ele estará em contato em todas as etapas.
Para deixar mais claro, numa produção simples – um vídeo de conteúdo de marca para uma empresa, por exemplo – ele se reúne com o cliente para a definição do briefing, elabora o roteiro do vídeo, faz toda a produção da captação, muito provavelmente é o diretor e diretor de fotografia, edita e finaliza o vídeo.
No meu entendimento, o videomaker é um profissional que prefere ter o controle do resultado do vídeo. Ele tem uma visão geral daquela peça e gosta de estar presente em todas as etapas, é o especialista do processo e não apenas do resultado. O “COMO” o processo acontece é o que mais me inspira.
PC: Hoje você tem sua própria empresa, mas já passou por produtoras de vários portes. O que fez você preferir abrir seu próprio negócio?
Como disse anteriormente, já tive outras empresas e trabalhei para outras produtoras. Como tudo na vida, cada experiência é importante, principalmente para você se encontrar e se aceitar. Todas essas experiências foram incríveis e serviram para que eu me entendesse melhor.
Tenho minhas características e hoje aceito os meus limites e minhas ambições. Entendo que tenho uma veia empreendedora e uma visão de como os projetos serão guiados. Ter o meu próprio negócio tem a ver com o meu jeito de ser e com a minha maneira de enxergar a vida.
Meu olhar está na produção, no contar a história, em vivenciar essa experiência que é a produção de um vídeo. Isso me inspira, me faz enfrentar as dificuldades, estar nesse lugar de contato e isso se reflete no resultado e até mesmo no processo. Sempre recebo comentários de que trabalho com um sorriso no rosto e isso é incrível, porque, às vezes, estou preocupado com as questões que aparecem durante a produção e, sem perceber, minha feição não demonstra essa preocupação. Acho que é um propósito participar da criação de histórias e poder contá-las com meu olhar.
PC: Quais os desafios e vantagens desse modelo de trabalho?
Não gosto da palavra “negócio”, me parece que transformamos algo vivo em algo sem vida, prefiro projeto. Tocar o meu próprio projeto é um desafio diário, é estar em contato com as decisões que nada mais são do que renúncias. Nem sempre será o que queremos, mas o que o projeto precisa. Alguns momentos exigirão decisões difíceis e nos trarão sentimentos contraditórios. O trabalho é árduo e constante, o comprometimento é ininterrupto. As vitórias serão uma para cada 10 batalhas, mas a cada batalha, mesmo perdida, andamos nove passos para frente. Afinal, são os desafios, em si, que nos fazem avançar. Agradeço pelas dificuldades e fico feliz pelas conquistas. Mas comemorar, só mesmo os aniversários.
PC: Acredito que um dos principais desafios de empreender como videomaker é conseguir clientes. Como você construiu/constrói o seu portfólio de clientes?
A realidade de uma empresa pode determinar a maneira como a captação de clientes é feita. No meu caso, nada melhor do que um trabalho bem feito. E melhor do que um vídeo bonito é a maneira como você se relaciona com os clientes.
Faço minhas divulgações, tenho o tempo de prospecção, mas quando se é “individual”, o boca a boca é o melhor meio. Então, dentro do possível, tento pegar o máximo de trabalhos, pois é aí que as conexões são feitas. Às vezes, a remuneração não é a melhor, mas a intuição fala para seguir, sigo e, lá na frente, esse job simples pode se converter em outros e agregar outros clientes.
Com o tempo você aprimora esse filtro, sua intuição está afiada e te ajuda nas decisões, mas é preciso estar aberto para o que vier, seja bom ou ruim.
PC: Existe algum caminho ou “segredo” para se tornar um bom videomaker? Por onde você acredita que é possível começar?
Existe um estudo que identificou que uma pessoa se tornará muito boa naquilo que faz quando atingir 10.000 horas de prática. Então, nada melhor do que gravar e editar: teve uma ideia, faça; está com tempo livre, grave; tem um monte de captações, edite.
Produção audiovisual exige técnica e investimento. Hoje em dia, os equipamentos estão mais acessíveis, um celular pode gravar imagens de qualidade. Por isso, se tem uma ideia na cabeça e um celular na mão, realize. Cursos são bons para aprimorar e aumentar a rede de contatos, mas para alcançar 10.000 horas, são os minutos que te ensinarão.
PC: Que características/habilidades deve ter um videomaker para se destacar na profissão?
Penso que, em qualquer profissão, ou mesmo na vida, ter comprometimento, sinceridade, humildade, ambição, um “teco” de paixão, escuta e empatia são características que podem te ajudar a ser uma pessoa melhor e, consequentemente, um profissional melhor. Minha experiência mostra que, nem sempre, os clientes querem o vídeo mais incrível, mas, sim, um profissional que seja um parceiro e acredite no projeto.
Minha sugestão é que você seja sua melhor versão. Não separe o profissional do pessoal, mas entenda a situação e o momento em que você se encontra e tente tomar a melhor decisão. Isso significa respeitar os seus limites e também entender as necessidades dos clientes. É o equilíbrio entre você e o outro.
PC: Com a recente popularização das plataformas de compartilhamento de vídeos (como youtube, IGTV, etc.) esse mercado ficou mais concorrido? Ou as oportunidades de trabalho na área aumentaram? Isso teve impacto no seu trabalho?
As duas coisas: mais plataformas são mais oportunidades. Porém, o campo se abre para mais pessoas produzirem. Penso que em todas as áreas é assim, a concorrência sempre existirá. Por isso, acompanhe o mercado, mas mantenha o foco no seu trabalho, pois focar na concorrência não te fará melhor, apenas trará mais incertezas e, com elas, vem o medo. E medo em excesso paralisa. Mantenha-se atualizado, acredite em você e faça.
Todas essas transformações foram positivas. Hoje consigo produzir com muita qualidade, manter o meu DNA a um custo mais baixo, tudo se encaixa.
PC: A sua empresa não se limita à produção audiovisual. Como você definiria o trabalho da Mombak?
A ideia primordial da Mombak é a contação de histórias. É esse o nosso eixo. Existem várias maneiras de se contar histórias, nosso DNA é o audiovisual dentro disso.
PC: O que é sucesso para você?
Sucesso é uma palavra que o ser humano inventou para diferenciar as pessoas que possuem interesses diferentes. Sucesso não é uma emoção, não é um sentimento, é apenas uma palavra.
Ser bem-sucedido é relativo: para alguém com depressão, ser bem-sucedido é um dia sem tristeza; para um ansioso, é um dia sem pressa; para mim, ser bem-sucedido é continuar a minha história.