O que faz um administrador de empresas?

o que faz um administrador de empresas

Quando criança, Luis Henrique Santos queria ser médico ou piloto de avião. Mas as circunstâncias da vida o levaram por outro caminho. Ainda jovem, trabalhou como mensageiro em multinacionais e o contato que teve com grandes líderes despertou sua vontade de atuar na área de Administração de Empresas. Você sabe o que faz um administrador de empresas?

Em uma época “analógica”, quando a internet ainda engatinhava, o trabalho de Luis era auxiliar as secretárias dos altos gestores, fazendo cópias de relatórios, projetando transparências em reuniões, etc. “Aquele ambiente me fascinava. Eu ficava bem quieto prestando atenção nos debates, nos argumentos, nas exposições dos problemas, nas possíveis soluções e, principalmente, em como as áreas se relacionavam”, relembra o profissional, que hoje é responsável pelos departamentos administrativo e financeiro da Siry Global, empresa de embalagens para alimentos.

Naquela época, seus ídolos eram os CEOs, que pareciam conhecer todas as áreas da empresa. “Eles falavam sobre finanças, vendas, marketing, produção, projetos, etc. Eu queria ser um deles. Como na época não havia LinkedIn, sempre que surgia a oportunidade, eu perguntava aos presidentes e diretores qual era a formação deles e a resposta era unânime: Administração de Empresas ou Engenharia”. Luis deixou de lado a ideia de ser piloto ou médico, mas descobriu que os princípios da Administração de Empresas estariam presentes em qualquer uma dessas áreas. Hoje, assim como na medicina e na pilotagem, sua rotina envolve planejamento, organização, direção e controle.

  

PC: A área de atuação dos profissionais de administração de empresas parece bastante ampla. Que atividades esse profissional pode desempenhar? Em que áreas atua?  

Com certeza é muito ampla. Eu sempre digo que não há barreiras para a atuação de profissionais da Administração. Você pode atuar em qualquer setor da economia, seja financeira ou real. Em qualquer departamento dentro de uma empresa. O papel do Administrador é dar suporte à tomada de decisões corporativas, minerando dados e produzindo informações.

Outra função importantíssima do administrador é promover a integração e a sinergia departamental em uma empresa. O objetivo de toda empresa é gerar lucro e valor. Neste cenário, todos precisam buscar este objetivo. Parece óbvio, mas nem sempre é o que acontece. Então, um bom administrador precisa ser capaz de direcionar e alinhar os departamentos – sempre respeitando as particularidades – para que a empresa alcance o objetivo.

Sobre a área de atuação, é o seu propósito que irá definir onde se encaixar. Por exemplo, o meu propósito sempre foi a Gestão Geral (General Management). Então, ao longo da minha trajetória profissional, atuei nos setores de Compras, Importação, Exportação, Contabilidade, Tesouraria, Finanças Corporativas, Suporte a Gestão de Vendas e Produção.

 

PC: Como é a sua rotina de trabalho? Quais são as principais responsabilidades que você tem na Siry?

A minha rotina é muito dinâmica, posso começar o dia discutindo fluxo de caixa e terminar avaliando os níveis de estoque, ou tentando encaminhar uma solução de TI ou RH. Essa é a beleza da Administração, você pode ser especialista em um tema ou multidisciplinar. Os princípios da Administração estarão sempre presentes.

Mas é claro, como um bom Administrador, sempre há uma agenda que você precisa cumprir. No meu caso, defino os temas por prioridades 1, 2 e 3. Mantendo no máximo cinco temas na prioridade 1 (prioridade máxima). Os temas da prioridade 2, precisam ser solucionados no máximo entre três e seis semanas. Já os temas da prioridade 3, talvez nunca sejam executados. Isso é Administrar: reconhecer que é impossível controlar e solucionar tudo o tempo todo. Mas é fundamental identificar os eventos de maior severidade e encaminhá-los para uma solução eficaz. Fazendo uma analogia, seria o truque de equilíbrio de pratos, porém alguns cairão e quebrarão, logo, caberá ao Administrador decidir quais.

Na Siry, estou responsável pelas funções Administrativas e Financeiras da empresa. Estamos vivendo um momento muito interessante de “turnaround”. Neste cenário, é necessário o envolvimento em todas as áreas da empresa. Aqui surge novamente a figura do médico, diagnosticando e remediando. Às vezes, amputações também serão necessárias (risos).

PC: Quais são os aspectos do seu trabalho que você mais gosta?

Eu adoro propor soluções, instruir as pessoas e apoiar! Sou muito “hands-on”! Quando você opta pela multidisciplinaridade, acaba virando ponto de referência na empresa. Eu sempre digo frases como “vamos focar na solução, não no problema”, “não queremos encontrar culpados, mas sim as causas raízes”. Na verdade, eu gosto de situações difíceis. A adrenalina sobe, eu fico alerta. Me obrigo a ajustar o plano e a rotina. Como diz o ditado: “Mar calmo nunca fez bom marinheiro”.

 

PC: É preciso ter algum tipo de especialização para atuar como administrador de empresas ou apenas a graduação é o suficiente?

Uma boa graduação (FEA, FGV ou INSPER) já é suficiente, mas eu recomendo muito as especializações depois que você já tiver uma certa bagagem! Eu mesmo fiz dois MBAs, um em Gestão Empresarial (FIA) e outro Executivo em Finanças (INSPER). As especializações ajudam a desenvolver uma visão estratégica dos negócios. Além disso, a convivência e a troca de experiências com outros executivos são intensas nos cursos de pós-graduação. Na graduação, você ainda não viveu experiências corporativas o suficiente para avaliar a importância do conteúdo que está sendo ministrado.

 

PC: É importante saber outros idiomas? Por quê?

Com certeza! Você não precisa ser poliglota, mas o seu nível de domínio do inglês tem que ser muito bom. Outros idiomas serão uma carta na manga. Porém, o inglês é o que chamamos de “pretinho básico”. Naquelas reuniões em eu que era papagaio de pirata (risos), um diretor me disse: “Meu jovem, quando você tiver um dinheirinho, primeiro ajude sua família, depois estude e aprenda a falar muito bem o inglês. Os carros e os romances serão bem mais interessantes depois destas conquistas (risos).”

Dominar o idioma me abriu muitas portas. Me proporcionou experiências que eu jamais imaginaria na minha infância e juventude. A primeira vez que eu participei de uma reunião no exterior, com pessoas de 15 nacionalidades, discutindo temas corporativos para serem implantados em nossas subsidiárias, a ficha caiu, eu agradeci a Deus pela oportunidade de iniciar a minha carreira como mensageiro interno, salário de jovem aprendiz e servir cafezinho e água naquelas reuniões.

 

PC: Você acredita que a profissão vai sofrer – ou já está sofrendo alguma transformação graças à tecnologia? Como os novos profissionais podem se preparar para isso?  

Já houve, está ocorrendo e continuará. É um caminho sem volta! Graças à tecnologia, hoje executamos tarefas com apenas um empregado, em vez de três. Mesmo assim, nós brasileiros ainda somos muito ineficientes. Segundo um estudo divulgado pela Conference Board,  a produtividade do trabalhador brasileiro equivale a 25% da produtividade do trabalhador americano. Claro que temos que levar em conta as condições de um trabalhador americano – como infraestrutura, saneamento e distribuição de renda. Quando iniciei a minha carreira, havia apenas um PC por departamento, isso mesmo. Os jovens que ingressarão no mercado não terão que se preocupar com essas constantes transformações tecnológicas, pois já estão inseridos neste ambiente. Já os profissionais com mais tempo de janela precisam acompanhar os avanços, compreender os movimentos disruptivos e buscar atualização contínua.

 

PC: Quais são as habilidades e características comportamentais mais importantes para ser um bom administrador de empresas?

Não é mais segredo que os profissionais são contratados pelas habilidades técnicas (hard skills) e sucumbem pelas habilidades comportamentais (soft skills). O equilíbrio emocional é fundamental para o administrador. Para que se tenha o equilíbrio, é necessário o exercício diário de autoanálise, reflexão e resiliência. O bom administrador é o “capitão do navio”, o líder. Precisa saber ouvir, entender porque as pessoas fazem as coisas da maneira que fazem, sem criticar ou minimizar a dor outro. Influenciar positivamente, ser perseverante, principalmente em situações adversas. Estou me referindo às características e habilidades. Entretanto, o administrador não pode ser ingênuo e sofrer da “síndrome de Poliana”. Existem situações em que todo esforço será em vão. Lidamos com pessoas e elas podem escolher: o nome disso é livre arbítrio. Se a pessoa decidir que não vai te seguir, acabou, “the game is over”. Você não será capaz de influenciá-la. Neste caso, entra o administrador líder (não o “chefe”), justo e imparcial, primeiro analisando se a falha é dele como gestor, ou uma deficiência comportamental do seu liderado.

Concluindo, minha recomendação é para que o administrador estude constantemente temas relacionados ao comportamento humano, pois isso fará toda a diferença no ambiente Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo (V.I.C.A.) em que todos estamos inseridos.

 

PC: O que é sucesso para você?

Excelente pergunta! Indiscutivelmente, a medida universal para sucesso é a “prosperidade”, fato! Você é o que você possui. Porém, um tal de Leonardo Da Vinci, citou: “A simplicidade é o estado de arte da sofisticação”. Para mim, sucesso é isso: transformar algo complexo em simples, ser agente de mudanças e transformações.