Do que é feita a fama? Como conseguir notoriedade como artista? Se você já pensou um dia em como ser cantor é muito provável que tais perguntas já tenham cruzado sua mente. Mas, para Adryana Ribeiro, que tornou-se nacionalmente conhecida como vocalista do grupo Adryana & a Rapaziada, ser famosa nunca foi uma meta. Então, vamos tirar as dúvidas de como ser cantor com essa entrevista.
“Queria ser backing vocal, achava chique. Queria ser uma cantora daquelas que todas as pessoas do meio respeitam”. O sucesso veio na esteira de seu talento, descoberto, por acaso, quando se apresentava na noite paulistana. A primeira aparição na TV, no programa de Clodovil Hernandes, deu à cantora a projeção que ela nunca havia buscado, mas que era inevitável.
Como ser cantor: simplicidade com atitude
Entretanto, quem vê glamour, nem sempre enxerga todo o trabalho que alicerça uma carreira bem-sucedida. Nessa entrevista, Adryana conta sobre os desafios que precisa vencer todos os dias em nome da profissão. “Eu, às vezes, passo por processos de muito cansaço e preciso subir ao palco e estar linda, arrumada e energizada”, revela a cantora, que mantém-se humilde, mesmo sob a constante luz dos holofotes. “É importante ter em mente que você não é a última bolacha do pacote, mas que, quando sobe ao palco, precisa realmente acreditar”.
PC: Como foi o início / a descoberta da música na sua trajetória?
Sou filha e neta de músicos. Com oito anos, eu estudava balé, aos onze, fiz piano. Mas era uma criança humilde. Mesmo vindo de uma família de músicos, não tinha piano em casa e não tinha dinheiro para estudar. As aulas de música sempre foram muito caras, então tive que descobrir um instrumento que não precisasse comprar. Um dia, meu pai me ouviu cantando no banheiro de casa, disse que eu era afinada e quis ouvir mais.
Foi assim que surgiu minha primeira oportunidade, com o meu pai ao violão, em casa. Ele me levou ao local onde ele ia tocar naquela noite, eu fui muito tímida e dei uma canja. É uma energia estupenda quando se sobe ao palco e recebe a resposta das pessoas. Eu ainda não tinha domínio da minha voz, afinal, tinha só 14 anos. Mas fui desenvolvendo, sendo lapidada no dia a dia, e foi maravilhoso.
PC: Você foi descoberta pelo apresentador Clodovil enquanto cantava na noite, em São Paulo. Naquele início, você imaginava que fosse alcançar sucesso na carreira em canto? Ser famosa era um sonho?
Eu jamais imaginei ser uma cantora de frente, uma intérprete. Queria ser backing vocal, porque achava chique. Queria ser uma cantora daquelas que todas as pessoas do meio respeitam. Queria fazer jingles, bailes, cantar na noite. Mas, ser famosa, não. Nunca imaginei que fosse alcançar notoriedade.
PC: A carreira em canto é um dom ou você acredita que, com estudo e dedicação, qualquer pessoa pode cantar bem? Como ser um cantor afinal?
Cantar é um dom, mas com estudo, apuro e dedicação perseverante é possível se moldar a fórmulas. Porque, afinal, a música é uma fórmula. Mas emocionar as pessoas já é uma outra coisa que se chama interpretação, que envolve sentimento, a lágrima. É descobrir o seu melhor, e isso vem da alma, não é algo que se adquire.
PC: O que é preciso, na sua opinião, para ser um cantor de sucesso?
Depende do departamento da música no qual se quer adentrar. Você pode ser um catedrático, pode se tornar um professor, ou um músico de orquestra. Dependendo do lugar em que você queira estar, existem algumas possibilidades e, sem dúvida, estudar é a melhor delas. E fazer. É preciso ter experiência. Hoje em dia, qualquer pessoa vira artista, mas, em um nível profundo, são poucas.
PC: É comum enxergarmos o universo dos famosos apenas pela ótica do glamour e do prestígio e, às vezes, esquecemos de analisar o quanto é preciso trabalhar para chegar onde poucos, como você, chegaram. Pode me contar um pouco sobre os principais desafios da sua trajetória profissional?
Os muitos “nãos”, as muitas humilhações e dificuldades, a superação do meu próprio ego. É importante ter em mente que você não é a última bolacha do pacote, mas que, quando sobe ao palco, precisa realmente acreditar. Encontrar o caminho do meio é muito difícil. Ter a autoestima elevada, mas ter humildade e entender o passo a passo, nunca passar por cima de ninguém, não querer o que é do outro… Afinal, glamour e prestígio são apenas 2%. Beethoven dizia que o gênio é composto por 98% de dedicação perseverante e 2% de brilho, sucesso, carisma, talento. Enfim, é preciso ralar muito, se dedicar e perseverar.
PC: Que dicas você pode dar para quem tem dúvidas de como ser um cantor?
Em primeiro lugar, é necessário descobrir o que se quer cantar, qual é a sua verdade. Não imitar ninguém. Eu nunca imitei ninguém. Tive que descobrir o meu timbre, a minha energia, a minha voz. Para cantar, é preciso descobrir quem você é. Muitas pessoas subiram imitando outras, mas, hoje, eu não acredito que existe muito espaço para isso. É preciso ser único. Depois, estudar, fazer aulas, ir ao médico, cuidar da voz, não beber gelado, não tomar vento.
Mas é difícil dar um direcionamento, porque o mercado mudou e eu venho de outra época, quando, para crescer, as pessoas tinham que ter talento e um diferencial. Atualmente, está tudo mais acessível. E o fato de ter a internet à disposição faz com que as pessoas consigam expor seu trabalho. O que não quer dizer, entretanto, que massifique. No meu caso, fui descoberta por um empresário, as pessoas acreditaram em mim e eu passei por todo um processo.
PC: Hoje, com a facilidade que a internet oferece, você acredita que é mais fácil se lançar na carreira em canto? Você enxerga as mídias sociais como uma ferramenta útil para quem tem dúvidas de como ser um canto de sucesso?
No meu tempo, usava um gravadorzinho, me ouvia e estranhava a minha própria voz. Atualmente, as pessoas têm, na internet, seu próprio outdoor, o próprio passaporte da alegria e, por isso, acreditam que não precisam de ninguém. Mas, pelo contrário: nós precisamos, sim, das pessoas. Precisamos, por exemplo, de um bom produtor, que nos dê um feedback correto. Você pode gestar seu trabalho, sua carreira, mas precisa de um bom espelho.
PC: Existem aspectos da sua rotina profissional que ninguém imagina e que você pode compartilhar com a gente? Como ser cantor famoso pode ter aspectos difíceis?
São muitas coisas… É uma ralação diária. No meu caso, ainda tenho que cuidar da “artista”: cabelo, unha, figurino, estar bem informada, estudar. Tenho que ter um nível hard de flexibilidade, de compreensão, de se colocar no lugar do outro. Passo mais tempo esperando do que executando. Às vezes, passo por processos de muito cansaço e preciso subir ao palco e estar linda, arrumada, energizada. Acontece de passar mal e ter que cantar. Fazer inalações periódicas. Administrar muito o jeito como falo e respiro, porque o problema, muitas vezes, pode estar na fala.
PC: Mesmo com anos de experiência, você continua estudando música?
Sim. Tenho que estudar, aprender músicas novas. Recentemente, comecei a estudar violão, mas como uma criança que nunca pegou no instrumento. Na verdade, eu tinha tentado algumas vezes, mas nunca deu muito certo… e, claro, precisa ter disciplina. Mas o problema é que eu não tenho muito tempo. Minha vida é muito corrida, mas sempre que posso, busco evoluir, aprender e abrir a mente. Faço cursos em diversas frentes.
PC: O que é sucesso para você?
O sucesso é uma circunstância. Ele é efêmero. Na vida profissional, em um dia se está em pé, no outro dia, sentado. Tudo o que você faz, tem que ser para valer. E se realizar: ou seja, deve ser um sucesso interno, estar feliz por ter alcançado uma nota ou por ter feito o seu melhor. Mas a aprovação do mundo é algo externo e circunstancial, que pode passar. É preciso desenvolver o sucesso interno, a felicidade plena de realizações e de conquistas que você galga.