Gerente de Produto: carreira depende de cursos técnicos

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Gerente de Produto, Product Manager, Product Owner ou simplesmente PM. Não importa a nomenclatura profissional. A realidade é que se trata de uma carreira relativamente nova no mercado da internet. E, melhor, com carência de bons profissionais. Nessa entrevista, vamos entender um pouco mais sobre a carreira de gerente de produto.

Basicamente, um Gerente de Produtos deve ser a interface entre três pontos: tecnologia, negócios e UX (user experience, experiência do usuário).

Na prática, esses profissionais focam em um produto, no seu mercado ideal e na forma que ele será utilizado pelos seus consumidores.

A matemática Roberta Altermann não pretendia seguir essa área, já que ela desconhecia sua existência. Autodidata, ela passou em uma universidade pública. Logo, percebeu que uma estratégia bem definida poderia ser o caminho mais acessível para o sucesso.

PC: Como foi seu ingresso na universidade? Você não fez uma faculdade específica paragerente de produto?

Não. Eu vim de uma família simples, na minha casa não tinha nem telefone e nem internet.

Estudei em uma escola pública e era uma boa aluna de matemática. Como não teria condições de pagar uma faculdade, decidi que prestaria a USP e a UNESP. E, acabei passando nas duas sem nunca fazer um cursinho.

Minha estratégia na época foi apenas estudar o que eu sabia e não perder tempo com o que não era o meu forte, como química por exemplo.

Também lia o jornal diariamente. Isso era algo que eu gostava de fazer e me ajudou com redação, geografia e um pouco de história.

Essa estratégia eu levei para minha vida: focar naquilo que a gente sabe fazer. Temos que dedicar o nosso esforço naquilo que somos bons e não perder tempo naquilo que não temos habilidade.

PC: Por ser de uma família mais humilde, sua família teve orgulho de você ter conseguido entrar em uma faculdade pública?

Meus pais sempre foram muito simples eles nem cursaram a faculdade. Meu pai só descobriu que era legal sua filha ter entrado nessa universidade quando ele ia me buscar e seus amigos perguntavam o que ele ia fazer na USP.

Ele dizia que ia me buscar e as pessoas faziam comentário positivos, então ele começou a ter orgulho de mim.

Isso eu também levei para a minha vida profissional. Não devemos ficar procurando reconhecimento. Se seu trabalho está sendo bem feito na hora certa o reconhecimento vem.

PC: E de onde surgiu o interesse pelo mercado de tecnologia? E pela carreira degerente de produto?

Tive uma aula introdutória de computação na faculdade. E, o professor era tão incrível que todos da turma decidiram pegar uma outra matéria optativa nesse tema.

Isso me mostrou o quanto um bom professor é essencial na carreira de um jovem.

Percebi que eu adorava ficar horas em frente a um computador. Chegava a ficar seis, oito horas direto.

Gostava de pedir algo para um computador e ele simplesmente fazer. Ainda mais quando era de forma rápida.

PC: Depois de formada, foi fácil encontrar um emprego na sua área?

No começo, me sentia um pouco perdida, não sabia como procurar emprego, onde entregar meu currículo.

Os jovens precisam muito de ajuda nessa etapa de suas carreiras. Trabalhei cinco meses em uma empresa de provedor de internet, não sabia nada, mas resolvi arriscar.

Meu objetivo era ganhar mil reais de salário, coloquei isso na cabeça e não sosseguei até conseguir.

Cinco meses depois, consegui meu primeiro emprego com carteira assinada e o salário era justamente de mil reais.

Nessa época percebi algo muito importante para quem decide seguir uma carreira relacionada a TI, tecnologia, UX ou Product Manager: é preciso fazer muito cursos técnicos para aprender na prática o que se ensina na faculdade.

PC: Você acha essencial ter uma universidade para sergerente de produto?

Sinceramente, não. Hoje, meus dois pares são ótimos profissionais e não têm nenhuma formação universitária.

O mercado nessa área mais técnica não tem exigido a faculdade na hora da contratação, mas sim cursos e mais cursos técnicos.

Ainda mais quando falamos de TI, uma área com escassez de bons profissionais.

Quando encontramos um profissional hands on, que sabe colocar a mão na massa, nem nos preocupamos com sua formação acadêmica.

A educação brasileira ensina, mas não profissionaliza. Faltam aulas práticas e estratégicas. Por isso, vejo tanta gente com graduação, pós-graduação, dois idiomas, etc e desempregada.

Também sinto falta das faculdades trazerem casos de exceção, pois elas ensinam casos de sucesso apenas e vejo uma certa dificuldade de profissionais de lidares com problemas ou erros.

PC: O que você faz exatamente como gerente de produto na Beleza na Web?

A carreira de PM (Product Manager) ficou mais forte no mercado em 2008.

Diferentemente do profissional de TI que executa solicitações de outras áreas, o PM tem mais autonomia e trabalha de forma integrada com todas as áreas com objetivo de entregar valor e traçar novos direcionamentos.

Planejo e aplico algumas metodologias no e-commerce. Por exemplo, temos a metodologia Ágile, que é trocar a implementação de uma ideia depois de um longo planejamento por pequenos planejamentos com aplicações práticas de pedaço em pedaço, já entregando valor.

Também fazemos aquilo que é chamado de Scrum, que basicamente é entregar valor desde o início, e o sprint que é focar no agora e já iniciar a implementação de algo que já me traga valor.

Enfim, são técnicas desenvolvidas para as empresas para evitar o desperdício de tempo e dinheiro e as tornar produtivas rapidamente.

PC: O mercado de tecnologia costuma ser ocupado por muito homens. Você já sofreu algum preconceito machista na sua carreira degerente de produto?

Em uma das primeiras entrevistas que participei, o diretor me disse que não costumava contratar mulheres, mas que iria fazer isso porque estava precisando de alguém com a experiência que eu tinha.

Esse mercado é sim um pouco machista, mas eu tenho um conselho para as mulheres que querem ingressar nessa profissão: não sofram.

É importante perceber que essa é uma deficiência de alguns homens e não tentar resolver nenhuma situação com agressão.

Muitos deles não percebem que estão sendo machistas. Tive o caso de um colega meu estar me tratando com preconceito.

Decidi chama-lo para conversar e conseguimos resolver essa situação. Volto a dizer que devemos focar no que sabemos fazer e não nos deixar abater por situações como essa.

PC: O que é preciso para ser um bom gerente de produto?

Precisa ter um perfil analítico, ser empírico e nunca guiado pelo feeling, ler o tempo todo, estudar muito, sempre estar fazendo um curso novo.

Importante ser flexível com erros, ter sempre um plano B, respostas rápidas e pensar em muitas alternativas.

Jamais pode ter aversão com planilhas, porque vai mexer muito com métricas e dados. Também precisa sempre se colocar no lugar do consumidor para entregar uma boa experiência com o produto.

Hoje precisamos de profissionais mais hands on, com autonomia, que saibam executar suas tarefas.

Infelizmente, as empresas não estão tendo muito tempo para ensinar, então precisamos de funcionários que consigam se virar sozinho – aí mais uma vantagem de fazer diversos cursos.

Como eu disse, não é necessário fazer faculdade para ser gerente de produto, mas caso ele queira, é bacana cursar algo relacionado à Sistema de Informações ou Experiência do Usuário.

PC: O que é sucesso para um gerente de produto?

Sucesso é ter uma carreira em que você possa ajudar alguém de alguma forma. É trabalhar com algo que faça a diferença para alguém. É valor.

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