Você sabe o que faz um diretor de arte? E qual a formação necessária para se tornar um? Para Sidney Osiro, que trabalha na editora United Magazines, o caminho não foi exatamente uma consequência de sua formação em Marketing, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “Não é só escolher um curso. Acima de tudo, é preciso construir um repertório de referências. Ver filmes, ir a exposições, ler livros de fotografia… A direção de arte é a aplicação da sua visão de mundo na profissão”, afirma ele que já passou por grandes empresas de comunicação, como as editoras Globo, Abril e Três.
Profissional de uma época em que não existia computador e, muito menos, internet, Sidney aprendeu a diagramar revistas no antigo método de paste up, que consistia na colagem do texto e da foto de uma reportagem, por exemplo, em uma prancha. Era esse material que serviria de base para a impressão da revista ou do jornal.
A evolução da profissão
Com a verdadeira revolução promovida pela chegada dos computadores às empresas na década de 1990, os designers tiveram que se adaptar a uma forma completamente nova de diagramar. Assim, em vez depaste up e pranchetas, passaram a se relacionar com programas como Photoshop e Indesign.
E, mais recentemente, Sidney tem assistido a uma outra revolução: a dos veículos digitais. Será o fim da profissão de diretor de arte? Para Sidney, a resposta é simples: “Sempre vai existir a necessidade do profissional de design. Ele é necessário para fazer a página da internet, a arte das divulgações das empresas, os displays, enfim…”.
Quer saber mais sobre o que faz um diretor de arte? Então, confira a entrevista completa a seguir.
Quanto ganha um diretor de arte? A média salarial desse profissional é de R$ 3,272 por mês (Fonte: Vagas)
PC: O que faz um diretor de arte?
Uma revista, por exemplo, tem um projeto gráfico definido (tipologia, layout, concepção fotográfica, identidade visual) e é onde o diretor de arte vai imprimir sua marca. Assim, se considera que a revista deve ser mais arejada, se vai focar mais a qualidade das imagens, o diretor de arte deve orientar os fotógrafos quanto ao visual que será levado para o leitor. Ele vai tentar capturar o olhar do leitor.
PC: No dia a dia, o diretor de arte pode interferir em outras áreas da produção de conteúdo?
Sim. Ele atua desde a criação da pauta até a finalização. É como um diretor de cinema: tem que acompanhar tudo, desde a roupa ao cenário. Assim, se a pauta vai render, ele pode interferir no espaço que ela terá na revista. Mas tudo é discutido juntamente com a equipe: em um ensaio de moda, por exemplo, decidimos juntos qual será o tema, o que será produzido, onde a foto será feita, quem serão os modelos… eu discuto com o fotógrafo que tipo de luz ele deve usar, que tipo de abordagem, se vai ser uma foto mais fechada, se vai ser em ambiente externo.
Aqui na GoWhere, eu participo não apenas da pauta em si, mas também da produção executiva, que inclui ir atrás do carro que vai levar a equipe até o local das fotos, providenciar as refeições, administrar os custos. E tudo isso sem perder o foco na qualidade do resultado.
PC: Então, além de um olhar apurado, um diretor de arte também deve ser um bom administrador?
Sim. Mas não existe uma fórmula exata. No dia a dia é que o profissional vai descobrir até onde ele pode e deve ir. Ele precisa conversar com todos: jornalistas, fotógrafos, ilustradores, profissionais de gráfica… porque não adianta fazer um trabalho excepcional e não ser capaz de orientar a impressão do material.
PC: Sua formação não tem exatamente a ver com o rumo profissional que sua carreira tomou. O que uma pessoa que deseja seguir carreira como diretor de arte deve estudar?
Não é só escolher um curso. É preciso, acima de tudo, construir um repertório de referências. Ver filmes, ir a exposições, ler livros de fotografia. Tudo isso faz parte do repertório de visão de arte. Além disso, é preciso criar o hábito de avaliar tudo: o layout, a roupa, o comportamento… no momento da foto, enxergar qual é a melhor pose. É preciso saber conversar para ser capaz de dirigir a pessoa. A direção de arte é a aplicação da sua visão de mundo na profissão. A sua bagagem é que vai ser usada para exercer sua profissão. É algo que se acumula. Por isso, é preciso ser observador e crítico. E tem que experimentar, tem que fazer.
PC: De qualquer forma, existem cursos universitários que podem ser um bom início para quem seguir na profissão…
Sim. Artes plásticas, cinema, fotografia… Há grandes diretores de arte que são fotógrafos ou cineastas. E também existe o diretor de arte de cinema. Mas a formação não basta. É importante, ao mesmo tempo, conversar com os fotógrafos, analisar filmes. Eu assisto a um mesmo filme três vezes: na primeira, só vejo; depois analiso a fotografia; na terceira analiso a direção de arte. É preciso ter a curiosidade de saber como se monta um filme, como se faz uma revista. Quando vir uma foto incrível querer saber como ela foi feita e o que envolve aquele trabalho. E é claro que não adianta ser um ótimo profissional se não tiver uma equipe que corresponda: um bom maquiador, um bom fotógrafo, um bom produtor fazem toda a diferença no trabalho do diretor de arte.
PC: Como foi a sua entrada no ramo do design?
Naquela época não existia computador. Portanto, as revistas e jornais eram montados empaste up , na prancheta. Eu comecei comopaste up fazendo as colagens dos textos e imagens na prancha. Na década de 1980, os jornais e revistas estavam muito bem. Quando terminei a faculdade, decidi trabalhar com arte impressa. Comecei em um jornal de bairro da Penha. Nem eu e nem os criadores do jornal conhecíamos o processo de fotolito, não sabia a nomenclatura do design gráfico, o que era fonte, corpo…
Então, propus que fizéssemos um teste juntos e, se eles gostassem, eu continuaria o trabalho. Deu certo. Fomos aprendendo juntos. Mas, cerca de um ano depois, o jornal faliu e eu fui trabalhar na Editora Três, em uma coleção de fascículos. Não tinha vaga na arte, mas o editor com que eu conversei me passou uma matéria para escrever. Fiz a matéria e fiquei muito amigo do diretor de arte da coleção, o Pereira. Eu tinha 21 anos, na época e o cara gostou muito de mim. Falei que queria trabalhar na arte e ele me disse para começar no dia seguinte. Fiquei uns dois anos. Comecei comopaste up e me tornei diagramador. Mas as coleções de fascículos também acabaram.
PC: E como foi o seu caminho até tornar-se diretor de arte?
Depois de sair da Editora Três, eu fui conversar com o diretor de arte da revista Saúde (da editora Azul, uma associada da Editora Abril). Levei meu portfólio depaste up e consegui uma vaga na agência que fazia os anúncios de banca das revistas. Mas quando abriu uma vaga para assistente de arte na Saúde, o diretor de arte me convidou e eu fui. Fiquei uns dois anos. Só que, nessa mesma época, a editora Globo que antes ficava no Rio, estava chegando a São Paulo. Uma amiga que era minha chefe foi para a Globo e me levou para ganhar o dobro do que eu ganhava na Editora Azul.
Fui como diagramador da revista Querida e fiquei dois anos lá. Quando o presidente Fernando Collor congelou as poupanças, no início da década de 1990, eu fui para o Japão. Fiquei um ano e, quando voltei, fiz alguns freelas para a editora Globo. O mercado ainda estava muito aquecido. Minha chefe, a diretora de arte, foi fazer parte de um outro projeto e me colocou no lugar dela. Assim, comecei minha carreira como diretor de arte na editora Globo, onde fiquei sete anos.
PC: E de lá até o seu trabalho atual, como diretor de arte das revistas na editora United Magazines?
Em 2000, fui convidado para ser diretor de arte freelancer da Models, uma revista nova da editora United Magazines. Ao mesmo tempo, a Contigo me chamou para ser chefe de arte. Era uma revista semanal e, portanto, a rotina era muito puxada. Fiquei três anos, mas não aguentava mais virar madrugadas, tinha filhos pequenos e ainda conciliava com o freela na United. Em 2004, fui convidado para assumir a GoWhere.
Nessa época, eu estava com um outro freela na criação do projeto gráfico da revista Stilo, feita para o lançamento do carro Stilo, da Fiat. Decidi, então, abandonar o freela e seguir só com a GoWhere, uma revista voltada para o segmento de luxo. Ela tinha um caderno de gastronomia e eu adorei trabalhar com isso. Foi a época em que o mercado de gastronomia estava começando a crescer. Além disso, eu também gostava da liberdade que o diretor da revista me dava, de fazer a pauta, produzir, acompanhar.
PC: O fato de fazer mais do que exige sua função principal é uma tendência que está ganhando força no mercado de trabalho, no geral. Você se sente estimulado por poder ir além do que faz um diretor de arte?
Eu gosto de participar de todos os processos em vez de ficar limitado à direção de arte. Por isso, ajudo na organização de um concurso de talentos da gastronomia em universidades, que não tem nada a ver com a direção de arte. Mas abracei esse projeto por ser uma coisa nova, que pode me servir lá na frente. Também participei, recentemente, da organização de um concurso da marca de massas Barilla, com chefs profissionais. Quando se tem acesso a várias atividades que podem agregar na profissão, é importante expandir, procurar novos interesses. Além disso, também aproveito essas oportunidades para fazer vídeos. Acredito que é preciso criar caminhos para ter um plano B quando a coisa definhar.
PC: O design passou por transformações ao longo dos últimos anos graças à tecnologia. Como isso afeta o mercado profissional?
A tecnologia foi eliminando alguns processos dentro da arte de fazer revista. E agora é o próprio processo de fazer revistas que está acabando. Mas sempre vai existir a necessidade do profissional de design. Ele é necessário para fazer a página da internet, a arte das divulgações das empresas, os displays, enfim… O meu trabalho é um trabalho de arte, não é só prático. A arte gráfica não é só o que se imprime em papel, pode ser impressa em um objeto (como uma xícara, por exemplo), pode ser impresso em embalagens.
PC: O que é sucesso para você?
Fazer o que gosta e ser bem remunerado por isso.