Produção audiovisual: a arte de resolver problemas

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A produção audiovisual brasileira tem ganhado cada vez mais prestígio internacional graças ao trabalho de profissionais de alto nível, como é o caso da diretora de produção da Brazil Production Services, Valéria Costa.

Formada em relações públicas e em teatro, ela descobriu sua vocação como produtora quase por acaso. Durante um estágio em um grupo teatral, enquanto observava os aspectos técnicos dos espetáculos, Valéria começou a se encantar pelo que acontecia atrás das cortinas.  “Durante esse tempo, aprendi muito sobre iluminação, música, figurino, etc. Foi então que esses outros aspectos de uma produção cênica começaram a chamar a minha atenção”, relembra. Mas ela decidiu mergulhar em outra arte: o cinema. Cursou uma pós-graduação e, depois de se apaixonar perdidamente pelo universo do audiovisual, foi beber da fonte na capital mundial do cinema: Los Angeles, nos Estados Unidos.

Desde 2017, quando concluiu seu mestrado na New York Film Academy, de Los Angeles, Valéria vem acumulando experiência em grandes produções, como os longas-metragens Minha Vida em Marte e Minha Mãe é uma Peça 3, além de diversas séries da Netflix e de vídeos para marcas como Microsoft, Uber, Spotify e IBM.

Para ela, trabalhar com produção audiovisual é “um jogo constante de comprometimento, negociação, solução de problemas e tomada rápida de decisões”. E é essa rotina cheia de desafios que faz seus olhos brilharem. “Em toda produção acontecem problemas que devem ser resolvidos de forma rápida e inteligente. Por isso, a capacidade de lidar com imprevistos e possuir um pensamento crítico são qualidades fundamentais para um produtor”. Confira, na íntegra, a entrevista com a diretora de produção:

 

PC: Qual é a sua primeira formação e porque você a escolheu?

Minha primeira formação é o bacharelado em Relações Públicas (RP). Quando a tão esperada época do vestibular chegou e eu precisava tomar uma decisão sobre qual faculdade cursar, ainda não tinha certeza sobre qual carreira queria seguir. O que eu sabia é que tinha grande aptidão e afinidade com a área de humanas e, mais especificamente, com a área de comunicação. Uma conhecida minha na época estava cursando RP e, em uma conversa que tive com ela, gostei da abrangência do curso, me interessei pela grade curricular e julguei que esse era o melhor curso para mim naquele momento.

Nunca tive isso de saber desde pequena o que eu queria “ser quando crescer”. Sempre admirei as pessoas que já nascem com uma vocação forte e não têm dúvidas de qual caminho seguir. Eu já quis ser de tudo: desde veterinária a atriz, até que eu me encontrei na produção.

PC: O que te motivou a cursar o mestrado em cinema? E por que em Los Angeles?

Durante alguns anos, inclusive durante o período da faculdade, eu tinha decidido que iria seguir a carreira de atriz. Me inscrevi, então, em um curso profissionalizante de teatro, com duração de três anos, que terminei junto com a faculdade. Depois que me formei, comecei como estagiária em um grupo de teatro em São Paulo. Nesse começo, eu ficava mais no backstage e acompanhando os ensaios e, durante esse tempo, aprendi muito sobre os aspectos técnicos de uma peça, como a iluminação, a música, o figurino, etc. Foi então que esses outros aspectos de uma produção cênica começaram a chamar a minha atenção. Mas eu sabia que não queria ficar no meio teatral. Decidi cursar uma pós-graduação em Cinema para ver se esse mundo me interessava e foi amor à primeira aula (risos). Mas esse curso era exclusivamente teórico. Juntei, então, a vontade que eu sempre tive de estudar fora com essa nova necessidade de entender a produção cinematográfica de uma forma prática e apliquei para o Master of Fine Arts em Filmmaking na New York Film Academy. Me formei em 2017. Escolhi Los Angeles não só por ser a capital mundial do cinema, mas também porque o curso de mestrado da escola é oferecido apenas no campus de Los Angeles.

PC: Quais foram os principais desafios que você enfrentou quando foi morar em Los Angeles?

Para mim, o mais difícil no início foi essa mudança da “vida em Português” para a “vida em Inglês” (risos). Eu estudei inglês desde criança e já tinha visitado os Estados Unidos antes de ir estudar em LA, mas confesso que, no começo, esse conjunto de nova língua + introdução a uma nova área de estudo com informações técnicas que eu nunca tinha visto na vida + convívio com novas pessoas de todos os cantos do mundo foi até cansativo. Lembro que, ao final da minha primeira semana de aula, parecia que a minha cabeça ia explodir (risos).  

O curso dava direito a um ano de trabalho na área, nos EUA, para todos os formandos. Foi nesse ano que eu entrei na produtora binacional Brazil Production Services como assistente de produção. Após alguns meses, fui promovida a Coordenadora de Produção e, após um ano, fui promovida novamente a Diretora de Produção da empresa. 

PC: Quais você acredita que foram os principais motivos de ter recebido duas promoções em tão pouco tempo de trabalho na Brazil Production Services?

Acredito que o principal motivo de eu ter conseguido essas duas promoções foi, sem dúvida, a minha dedicação. Comecei a trabalhar na empresa pois me identifiquei logo de cara com o modelo de negócio da produtora e sempre procurei entregar o meu melhor desde o primeiro dia em que coloquei os pés no escritório, principalmente pelo fato de nunca ter tido nenhuma experiência de trabalho na área. Não queria que isso fosse um problema, sentia que eu precisava correr atrás do “tempo perdido”. 

Quando as promoções foram acontecendo, foi quando eu senti que finalmente estava no caminho certo e fazendo algo que faz sentido para mim. 

PC: O que faz um produtor? E, mais especificamente, na produção audiovisual?

Produtor é, em resumo, a pessoa que vai garantir que os elementos necessários para a execução de uma filmagem ou evento estejam alinhados com o plano e com o cronograma de produção. 

No caso do cinema, de modo geral, o produtor é o responsável por orçar e controlar o orçamento da produção, contratação de equipe qualificada, planejamento e gerenciamento do cronograma de produção, gerenciamento das logísticas do set, gerenciamento dos documentos legais da produção (permissões de filmagem, autorizações de uso de imagem, seguro, etc) e prestação de contas ao final da produção. 

PC: Quais são os principais desafios dessa profissão?

Acredito que os dois maiores desafios são: alinhamento do orçamento com as expectativas e possibilidades do cliente e deadlines apertados. 

Esses desafios andam sempre de mãos dadas. Por exemplo, um caso muito recorrente é o alinhamento da agenda e disponibilidade do talento (chamamos talento a pessoa que estará na frente da câmera, seja ela um ator / atriz ou um entrevistado) com um plano de produção que seja realista e executável. Dependendo do tempo que temos para a pré-produção, temos que analisar o que é viável e o que deve ser adaptado do briefing original para que a equipe consiga executar o plano. E sempre tendo em vista também o orçamento do projeto como um todo, que é geralmente o que nos diz o que é possível ou não ser feito.

Sempre falo com os produtores que trabalham comigo que podemos ter somente duas das três opções: bom, rápido e barato. Não há como termos os três juntos, não existe milagre. Produção é um jogo constante de comprometimento, negociação, solução de problemas e tomada rápida de decisões. Em toda produção acontecem imprevistos e problemas que devem ser resolvidos de forma rápida e inteligente. Por isso, a capacidade de lidar com imprevistos e possuir um pensamento crítico são qualidades fundamentais para um produtor, na minha opinião.

PC: Do que você menos gosta na rotina da produção audiovisual?

Talvez o fato de que sempre temos hora para chegar, mas nunca um horário de saída (risos).

PC: Você pode compartilhar algum momento marcante em sua trajetória profissional?

No final de 2018, quando o filme “Minha Vida em Marte” entrou em cartaz nos cinemas brasileiros e eu fui ao cinema assistir com a minha família e amigos. Foi a primeira vez que vi o meu nome nos créditos finais na tela do cinema. Tive uma sensação de realização e lembro-me de pensar: “Valeu a pena. Eu faria tudo de novo”. Produção é e sempre será um processo cansativo e estressante, mas quando você assiste ao produto final, sempre dá vontade de fazer mais.

PC: Quais são, na sua opinião, as características mais importantes para ser um produtor audiovisual bem-sucedido atualmente?

Acredito que duas características básicas para um produtor são: ser responsável e de confiança. Um produtor tem que lidar com e conciliar muitos elementos ao mesmo tempo. Ele carrega consigo não apenas as responsabilidades operacionais e financeiras de um projeto, como também as responsabilidades legais do mesmo. Você tem que ser capaz de tomar as responsabilidades para si e arcar com as consequências disso. É fundamental que um produtor passe confiança para o seu cliente e para a sua equipe e seja uma pessoa de palavra. Não há nada pior do que um produtor ou até mesmo assistente que não vai até o fim com a tarefa que lhe foi designada. 

Saber trabalhar em equipe também é fundamental.  Uma produção audiovisual é composta por muitos elementos e detalhes e, como dizem em inglês, “it takes a village to make a movie” (na tradução literal: “é preciso uma vila para fazer um filme”). Portanto, saber colaborar é ouro também. 

Como disse anteriormente, produção é resolver problema atrás de problema, então saber lidar com imprevistos e ter um bom pensamento crítico para tomar decisões também são características que fazem toda a diferença.

PC: Como está o mercado para quem pensa em seguir carreira como produtor? É um mercado concorrido?

Sim, é um mercado bastante concorrido, mas que também carece de pessoas qualificadas e comprometidas, na minha opinião. Muitas pessoas se dizem produtoras, mas, muitas vezes, sinto que querem isso apenas pelo título e, na hora da entrega, não estão à altura do desafio. 

PC: Qual é a definição de sucesso para você?

Para mim, sucesso é a possibilidade de exercer e me manter em uma profissão que me traga realizações mas que, ao mesmo tempo, sempre me apresente novos desafios.

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